O Teatro das Máscaras no SBT: A Humilhação de Nikolas Ferreira e a Tentativa de “Higienizar” Flávio Bolsonaro

Nikolas Ferreira rompe o silêncio e diz o que pensa sobre Flávio Bolsonaro  disputar à presidência em 2026 - Portal Área VIP

O cenário mediático brasileiro vive dias de tensão absoluta. Entre o cancelamento definitivo de Zezé Di Camargo e os “puxões de orelha” em direto a Nikolas Ferreira, o SBT tenta equilibrar-se numa corda bamba perigosa. Mas será que a emissora está a ser isenta ou apenas a preparar o terreno para uma nova face do bolsonarismo? Analisamos a fundo a estratégia de “humanização” de Flávio Bolsonaro sob o olhar de Ratinho.

A televisão brasileira, historicamente um palco de influência política e social, está a atravessar um momento de redefinição de fronteiras. Nas últimas semanas, o SBT — a emissora que outrora foi o porto seguro de Jair Bolsonaro — parece estar a tentar uma manobra de correção de rota. No entanto, o que vemos no ecrã não é uma mudança de princípios, mas sim um espetáculo de conveniência onde as máscaras caem, as humilhações são servidas em direto e o “limpar da imagem” de certas figuras políticas acontece à luz do dia.

O Caso Mirosmar: Quando o “Amor” Perde o Palco

Tudo começou com o cancelamento terminal do show de Natal de Zezé Di Camargo (ou Mirosmar, como a internet o resgatou ironicamente). O cantor, que dobrou a aposta em declarações polémicas e ataques às filhas de Sílvio Santos, descobriu da pior forma que a lealdade ideológica tem limites quando interfere na hierarquia e nos interesses comerciais. O episódio de Zezé serve como um prelúdio: a era da impunidade total para celebridades que se sentem “iluminadas” acima da lei parece estar a sofrer fissuras.

Nikolas Ferreira: A Humilhação em “Elegância Jornalística”

O jovem deputado Nikolas Ferreira, habituado a dominar as narrativas nas redes sociais através de gritos e cortes rápidos, encontrou um obstáculo inesperado: a estrutura profissional do novo jornalismo do SBT. Ao tentar deslegitimar a presença do Ministro Alexandre de Moraes num evento da emissora, Nikolas foi confrontado por um apresentador que, com extrema elegância, lhe recordou o que é o respeito institucional.

A resposta foi clara: o SBT convidou o Supremo Tribunal Federal, representado por Moraes, porque o jornalismo sério deve ouvir as autoridades, independentemente das “bolhas” de opinião. A tentativa de Nikolas de criar um “chilique” mediático transformou-se numa lição pública sobre o que significa viver numa República. O deputado, que se autointitula defensor da liberdade, foi humilhado pela sua própria incapacidade de compreender que as instituições democráticas estão acima dos seus interesses de “likes”.

A Estratégia do “Novo” Flávio Bolsonaro

Enquanto Nikolas Ferreira é enquadrado, uma outra movimentação mais subtil e perigosa acontece: a humanização de Flávio Bolsonaro. Na sua recente entrevista ao programa do Ratinho, vimos um Flávio estrategicamente posicionado. Longe do tom agressivo do pai, o Senador apresentou-se como o “equilibrado”, o homem que reconhece “falhas de comunicação” no clã, enquanto aproveita o palco para destilar as mesmas mentiras de sempre sobre o Bolsa Família e a economia.

Ratinho, por sua vez, desempenhou o papel de “escada”. Embora tenha lido uma nota oficial da emissora afirmando a isenção do SBT, o apresentador não escondeu a sua inclinação ao dar espaço para que Flávio Bolsonaro mentisse abertamente sobre a situação jurídica do pai e sobre o pleno emprego no país. A narrativa apresentada é a de que as pessoas que recebem o auxílio do governo são “folgadas”, ignorando os dados económicos recorde de emprego que o Brasil vive atualmente.

A Nota do SBT e a “Vira-Casaca” do Poder

Nikolas ministro? Deputado reage após convite de Flávio Bolsonaro

A leitura da nota oficial por Ratinho é um estudo de caso sobre o “sabujismo” mediático. O SBT afirma não ter lado, mas a história mostra que o seu lado é sempre o de quem detém as chaves do poder ou do dinheiro. Ao tentar culpar as redes sociais pela “falsa ideia” de que a emissora é bolsonarista, o SBT ignora os anos de “passar de pano” sistemático.

O que estamos a ver agora é uma tentativa de “higienização”. Querem transformar Flávio Bolsonaro num político de direita “moderado” para 2026, limpando o sangue e a lama das investigações criminais com o detergente da televisão nacional. Estão a tentar vender uma versão “limpa” do bolsonarismo, aproveitando-se da memória curta de parte do eleitorado.

A Incongruência dos Factos

O grande problema para estas figuras — e para os apresentadores que os protegem — são os factos. Flávio Bolsonaro chora em direto a “prisão” do pai num quarto de 12 metros quadrados, esquecendo-se de mencionar que o sistema judicial agiu conforme a lei. No palco do Ratinho, o cinismo atinge níveis estratosféricos quando se fala de desemprego. Enquanto os empresários bolsonaristas choram a falta de funcionários, o clã afirma que o povo está em casa por causa de 600 reais. A verdade? As pessoas estão empregadas, os índices económicos são positivos, mas a “bolha” bolsonarista recusa-se a aceitar a realidade que não cabe no seu WhatsApp.

Conclusão: O Despertar para o Espetáculo

O que aconteceu nesta terça-feira é um aviso. A tentativa de humanizar Flávio Bolsonaro é o início de uma nova campanha de marketing político que pretende usar a estrutura das grandes emissoras para reabilitar o extremismo. No entanto, a humilhação de Nikolas Ferreira mostra que ainda há focos de resistência jornalística que não aceitam o guião da extrema-direita sem questionar.

O telespectador precisa de estar atento. O SBT pode dizer que não tem lado, mas as suas escolhas de convidados, o tom das suas entrevistas e a proteção dada a certas narrativas dizem o contrário. A “higienização” de Flávio Bolsonaro é uma armadilha preparada para 2026. A questão que fica é: o povo brasileiro vai cair nesta nova roupagem do mesmo projeto de poder, ou vai lembrar-se de que, por trás da gravata e do tom de voz moderado de Flávio, reside a mesma ideologia que atacou a democracia? O relógio não para, e as máscaras continuam a cair.