O Chilique de Zezé Di Camargo: Entre o Falso Moralismo e os Milhões da Lei Rouanet

O cantor sertanejo causou revolta ao atacar as filhas de Silvio Santos e chamar a postura do SBT de “prostituição” após a presença de Lula e Alexandre de Moraes no canal. Mas os bastidores revelam uma hipocrisia financeira que chocou o público.
O Brasil assistiu, nas últimas horas, a uma cena que mistura entretenimento, política e uma boa dose de falta de memória histórica. Zezé Di Camargo, uma das vozes mais conhecidas do sertanejo e ferrenho apoiador do bolsonarismo, utilizou as suas redes sociais para um desabafo carregado de agressividade. O alvo? A família Abravanel. O motivo? O pragmatismo democrático do SBT, que convidou o Presidente Lula e o Ministro Alexandre de Moraes para o lançamento do SBT News.
O Ataque às Herdeiras e a Resposta de Janja
Num vídeo que rapidamente se tornou viral, Zezé não poupou palavras de baixo calão. Visivelmente incomodado com a aproximação institucional do SBT ao atual governo, o cantor afirmou que as filhas de Silvio Santos — Patrícia, Daniela e Rebeca — estão “a mudar totalmente a maneira de pensar” do pai e chegou a utilizar o termo “prostituindo” para descrever a linha editorial da emissora.
“Não precisam de passar o meu especial de fim de ano no ar. Não quero participar disso”, disparou o cantor, tentando impor um boicote à própria casa que o acolheu durante décadas.
A reação foi imediata e veio de altas esferas. A primeira-dama, Janja Lula da Silva, saiu em defesa das executivas do SBT, classificando a fala de Zezé como um exemplo clássico de “machismo e misoginia”. Segundo Janja, o uso do termo “prostituição” para criticar mulheres em espaços de poder reflete um pensamento que desrespeita a autonomia feminina e alimenta discursos de ódio.
Silvio Santos e o Pragmatismo que Zezé “Esqueceu”
Especialistas e biógrafos, como o professor Felipe Pena, apontam que o ataque de Zezé revela uma profunda ignorância sobre a história do próprio Silvio Santos. Historicamente, o SBT sempre foi uma emissora alinhada ao governo de turno, independentemente da ideologia. De João Batista Figueiredo (o último ditador militar) a Lula e Dilma, passando por Collor e Bolsonaro, Silvio Santos sempre foi um mestre do pragmatismo empresarial.
O motivo é simples: a sobrevivência económica. O império Abravanel, incluindo o Baú da Felicidade e o Banco PanAmericano, sempre dependeu de concessões, regulações e apoios estatais. Silvio Santos nunca foi um ideólogo, mas sim um empresário que entendia que, para uma rede de televisão aberta prosperar, é necessário manter canais abertos com o Palácio do Planalto. Ao convidar Lula, o Governador Tarcísio de Freitas e o Prefeito Ricardo Nunes, as filhas de Silvio apenas deram continuidade ao legado diplomático do pai.
A Hipocrisia dos Cachets: R$ 33 Milhões em Jogo
O que mais irritou o público e os internautas, contudo, foi o “telhado de vidro” do cantor sertanejo. Enquanto Zezé critica o governo e a Lei Rouanet, os números revelam uma realidade bem diferente. Um levantamento recente mostrou que a dupla Zezé Di Camargo e Luciano está entre os artistas que mais lucraram com projetos via Lei Rouanet e verbas públicas, acumulando cerca de R$ 33 milhões ao longo dos anos.
Recentemente, o cantor foi contratado pela prefeitura de uma pequena cidade no interior de Pernambuco, São José do Egito, por um cachet de R$ 500.000, pagos com recursos federais repassados ao município. A contradição é gritante: Zezé ataca as instituições e o governo de quem ele mesmo recebe somas vultuosas para realizar as suas apresentações.
SBT “Exorcizado”: O Alívio de Fim de Ano
Nos bastidores da crítica televisiva, a reação ao pedido de Zezé para retirar o seu especial do ar foi recebida com ironia. “O SBT conseguiu dois feitos: reconheceu o valor das instituições democráticas e livrou o país de mais um especial de fim de ano do Zezé Di Camargo”, comentou o professor Felipe Pena.
O canal, através de Daniela Abravanel Beyruti, emitiu uma nota reforçando o seu compromisso com a pluralidade e o respeito aos três poderes. O episódio deixa claro que o bolsonarismo cultural está a ter dificuldades em lidar com o regresso da normalidade institucional, onde uma rede de TV pode — e deve — dialogar com o Presidente da República, independentemente de quem ocupe a cadeira.
Para Zezé, resta o isolamento de um discurso que já não encontra eco no pragmatismo das grandes redes de comunicação. O “homem de família” que ataca mulheres por divergências políticas parece ter esquecido que a democracia, tal como o palco, exige respeito ao público e às regras do jogo.
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