Faxina nos Gabinetes: De Desembargador Preso a Celulares no Gramado, o Cerco se Fecha contra a Corrupção

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As investigações da Polícia Federal e do STF revelam uma rede de influência que une magistrados como Macário Ramos, políticos como Antônio Doido e o moralismo seletivo de Zezé Di Camargo.

O cenário político e judiciário brasileiro foi sacudido por uma sequência de operações que expõem as vísceras de um sistema de privilégios e ilegalidades. O que une um desembargador federal, deputados desesperados e artistas que vivem de verba pública é um fio condutor comum: a utilização de estruturas do Estado para fins pessoais e a manutenção de uma fachada moralista que começa a ruir sob o peso das provas.

O Caso Macário Judes: A “Facção de Gabinete” no Rio e Espírito Santo

A prisão do desembargador federal Macário Ramos Judes Neto, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, é um dos capítulos mais graves dessa limpeza institucional. Afastado do cargo pelo TRF-2 por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis, Macário é suspeito de atuar como um informante de luxo para o crime organizado.

As investigações apontam que ele teria vazado operações sigilosas para o ex-deputado TH Joias, figura apontada como elo com o Comando Vermelho. O nome de Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ), também surge nas conversas interceptadas pela Polícia Federal. Mensagens trocadas entre Macário e Bacellar revelam uma “intimidade indevida” entre o magistrado e o chefe do legislativo fluminense, sugerindo que as decisões judiciais e os alertas de operações circulavam livremente em mesas de jantar e gabinetes.

O Desespero de Antônio Doido e a “Operação Descalculia”

Enquanto o judiciário lida com seus próprios escândalos, no Congresso Nacional o pânico é evidente. O deputado Antônio Doido (MDB-PA) protagonizou uma cena digna de comédia pastelão, mas com contornos criminosos: ao perceber a chegada da Polícia Federal em seu apartamento funcional, o parlamentar teria arremessado seus celulares pela janela. Os agentes encontraram os aparelhos escondidos no gramado do prédio.

Essa reação é sintomática do medo que envolve a investigação sobre o desvio de emendas parlamentares. A PF descobriu associações de fachada usadas para receber dinheiro público onde os diretores registrados eram crianças de apenas um ano de idade. Por conta dessa “confusão” deliberada com números e registros, a ação foi batizada de Operação Descalculia. O desespero de Antônio Doido reflete a preocupação de muitos parlamentares que hoje tentam retaliar o governo e o STF por meio de pedidos de impeachment contra o ministro Flávio Dino.

A Hipocrisia de Zezé Di Camargo e o Apoio de Flávio Bolsonaro

Para além dos crimes financeiros, o debate público foi tomado pela crítica à hipocrisia moralista. O cantor Zezé Di Camargo, que frequentemente se posiciona como defensor da “família tradicional” e dos valores conservadores, tornou-se alvo de questionamentos após revelações de que faturou mais de R$ 2 milhões em cachês de prefeituras pequenas apenas em 2025.

A crítica, amplificada por figuras como o deputado Lindbergh Farias, aponta que Zezé vive de “se vender” ao Estado enquanto critica outros artistas. Além disso, seu histórico pessoal de adultérios públicos contradiz o discurso de “honrar pai e mãe” que ele utiliza para atacar adversários. A defesa apaixonada feita por Flávio Bolsonaro a favor de Zezé Di Camargo apenas reforça o alinhamento político de uma ala que, segundo críticos, protege “pais de família” seletivos, enquanto ignora tragédias que afetam famílias pobres e periféricas.

Conclusão: O Fim do Orçamento Sequestrado

O pano de fundo de todos esses escândalos é o controle do dinheiro público. O “orçamento secreto” e o sequestro das verbas federais por deputados individuais criaram um terreno fértil para a corrupção de baixo nível e para o enriquecimento de aliados. O momento atual indica que a Polícia Federal e o STF não estão apenas mirando em crimes isolados, mas em todo o ecossistema que permite que desembargadores como Macário e políticos como Antônio Doido operem à margem da lei. A faxina está apenas começando.