Em 14 de agosto de 1883, na fazenda Santa Eulália, no interior da Bahia, a sinhá Mariana Eugênia dos Santos acordou com uma dor lancinante no peito esquerdo. Quando olhou para baixo, viu sua pele começando a apodrecer. A carne literalmente se desfazia, exalando um odor pútrido que fez sua mucama recuar em horror.

Em três semanas, aquela mulher de 42 anos, considerada uma das fazendeiras mais ricas e temidas do recôncavo baiano, estaria morta, seu corpo apodrecendo enquanto ainda respirava, em um processo que os médicos da época não conseguiram explicar, mas que toda a comunidade escrava atribuiu a uma maldição, uma vingança sobrenatural pelo crime mais hediondo já cometido por uma senhora contra suas escravas.

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O que Mariana fez para merecer tal destino? Entre 1878 e 1883, ela ordenou que pelo menos sete escravas cortassem seus próprios seios. Sim, você ouviu corretamente. Usando facas de cozinha, tesouras de poda e até pedaços de vidro quebrado, essas mulheres foram forçadas a mutilar a si mesmas enquanto a sinhá assistia, bebendo vinho do Porto e fazendo comentários sobre a técnica de cada uma.

As que hesitavam tinham seus filhos ameaçados de morte. As que desmaiavam eram reanimadas com água fria e forçadas a continuar. E tudo isso por um motivo tão banal quanto perturbador: ciúmes patológicos de seu marido. A fazenda Santa Eulália ficava a 30 km de Cachoeira, no coração do recôncavo baiano.

Era uma das propriedades mais produtivas da região, com 180 escravos trabalhando em canaviais que se estendiam por centenas de hectares. A casa grande, construída em estilo colonial português, tinha três andares, capela privativa, biblioteca com mais de 500 volumes e uma sala de tortura no porão que poucos visitantes conheciam. Mariana Eugênia dos Santos nasceu em 1841, filha única do coronel Inácio Pereira dos Santos e de dona Eulália Maria da Conceição.

Herdou a fazenda aos 19 anos, quando seus pais morreram em um acidente de carruagem. Em 1862, casou-se com Rodrigo Almeida Castro, um comerciante português 15 anos mais velho, que viu no casamento uma oportunidade de ascensão social e econômica. O casamento foi arranjado, como era comum na época, mas nos primeiros anos parecia funcionar adequadamente dentro dos padrões da sociedade escravocrata.

Rodrigo administrava os negócios externos, vendendo açúcar e comprando escravos. Mariana controlava a Casa Grande e supervisionava o trabalho doméstico. Tiveram três filhos: Inácio, nascido em 1863, Eulália em 1865 e Rodrigo Júnior em 1868. Mas havia algo profundamente errado com Mariana desde a juventude. Empregados antigos da fazenda relatavam que, mesmo adolescente, ela demonstrava crueldade incomum.

Arrancava asas de pássaros para vê-los tentar voar. Queimava formigas com lentes de aumento sob o sol. Açoitava mucamas por erros mínimos, como derramar uma gota de café ou dobrar um lençol com vinco imperfeito. Sua mãe, dona Eulália, tentava controlar esses impulsos, mas morreu antes de conseguir corrigir a filha. Quando assumiu o controle total da fazenda, Mariana implementou um regime de terror que superava em crueldade até mesmo os padrões brutais da época.

Escravos eram açoitados por olharem diretamente para ela. Crianças eram separadas de suas mães aos 2 anos de idade. Fugas eram punidas com amputação de dedos, mas o pior estava reservado para as escravas jovens e bonitas. Mariana desenvolveu uma obsessão patológica com a ideia de que seu marido a trairia com as escravas.

Não havia evidência real, mas a paranoia consumia seus pensamentos. Rodrigo era, na verdade, um homem discreto que evitava escândalos. Tratava as escravas com indiferença profissional, vendo-as apenas como investimentos econômicos. Mas para Mariana isso não importava. A mera possibilidade da traição era insuportável.

Em 1875, ela começou a implementar regras específicas para as escravas da Casa Grande. Mulheres com menos de 40 anos foram proibidas de usar qualquer roupa que revelasse o formato do corpo. Tinham que raspar a cabeça completamente. Não podiam falar na presença de Rodrigo. Eram obrigadas a baixar os olhos quando ele passava.

Mas mesmo essas medidas não acalmavam a mente perturbada de Mariana. A situação piorou drasticamente em março de 1878, quando Mariana flagrou seu marido conversando com Joana, uma mucama de 22 anos, sobre a organização de uma festa. A conversa era completamente inocente, discutindo arranjos florais e cardápios, mas Mariana interpretou como evidência de conspiração amorosa.

Naquela noite, ordenou que Joana fosse levada ao porão. O que aconteceu naquele porão marcaria o início de uma série de atrocidades que chocaria até mesmo uma sociedade acostumada à brutalidade da escravidão. Mariana não apenas mandou açoitar Joana; ela pegou uma tesoura de poda e, na frente das outras mucamas convocadas para assistir, cortou o mamilo esquerdo da escrava. Joana desmaiou de dor.

Quando acordou, Mariana estava esperando com ferro em brasa para cauterizar a ferida. Se você está chocado com o que ouviu até agora, saiba que isso é apenas o começo desta história devastadora. Deixe seu comentário dizendo de onde você está assistindo e compartilhe para que mais pessoas conheçam a verdade sobre nosso passado.

A história oficial tentou esconder essas narrativas, mas nosso trabalho é garantir que as vítimas não sejam esquecidas. Após a mutilação de Joana em março de 1878, a fazenda Santa Eulália entrou em um período de terror sem precedentes. A notícia do que acontecera no porão se espalhou rapidamente entre os 180 escravos da propriedade.

Joana sobreviveu à mutilação, mas desenvolveu uma infecção grave que a deixou febril por semanas. Mariana não permitiu que médico algum a examinasse. “Ela vai sarar sozinha ou morrer”, declarou friamente. “De qualquer forma, aprenderá a não seduzir homens casados”. Joana sobreviveu, mas ficou permanentemente marcada física e psicologicamente.

A ferida cicatrizou de forma grotesca, deixando uma massa de tecido deformado onde antes havia um seio perfeitamente formado. As outras mucamas começaram a tratá-la com uma mistura de compaixão e terror, vendo nela o presságio do que poderia acontecer com qualquer uma delas. Rodrigo Almeida Castro descobriu o que sua esposa havia feito apenas três dias depois do incidente.

Um dos feitores, preocupado com a gravidade da situação, contou-lhe discretamente. Rodrigo confrontou Mariana em seu quarto, exigindo explicações. A discussão que se seguiu revelou a profundidade da perturbação mental de sua esposa. “Aquela negra estava se oferecendo para você”, gritou Mariana. “Vi a forma como te olhava, como sorria quando você passava”.

“Todas elas são iguais, querem roubar o que é meu. Preciso proteger meu casamento, minha família, minha honra”. Rodrigo tentou argumentar que Joana nunca havia demonstrado interesse por ele, que a acusação era infundada, mas Mariana estava além da razão. Ela havia criado uma narrativa em sua mente onde todas as escravas jovens eram ameaças sexuais que precisavam ser neutralizadas, e havia encontrado o método perfeito para essa neutralização: a desfiguração permanente.

Nos meses seguintes, Rodrigo tentou controlar o comportamento de sua esposa através de várias estratégias. Proibiu que ela descesse ao porão sem sua permissão. Ordenou aos feitores que o informassem sobre qualquer castigo incomum. Até considerou internar Mariana em um sanatório no Rio de Janeiro. Mas o escândalo social que isso causaria seria devastador para a família.

Mariana, percebendo a vigilância aumentada, tornou-se mais calculista. Durante seis meses, comportou-se de forma exemplar. Tratava as escravas com frieza profissional, mas sem violência explícita. Rodrigo começou a acreditar que o incidente com Joana havia sido um episódio isolado, uma aberração causada por estresse temporário.

Mas em setembro de 1878, a verdadeira natureza de Mariana revelou-se completamente, e o que ela fez foi infinitamente pior do que qualquer um poderia imaginar. Tudo começou quando Rodrigo precisou viajar para Salvador para negociar a venda da safra de açúcar. A viagem duraria duas semanas. Antes de partir, ele alertou os feitores para manterem vigilância constante sobre as atividades de Mariana, mas ele subestimou a inteligência manipulativa de sua esposa.

No terceiro dia após a partida de Rodrigo, Mariana convocou quatro mucamas para uma reunião privada em seus aposentos. As escolhidas foram Benedita, 24 anos, Rita, 19 anos, Francisca, 21 anos e Teresa, 26 anos. Todas eram consideradas bonitas segundo os padrões da época, e todas trabalhavam na Casa Grande, onde teoricamente teriam contato com Rodrigo.

Quando as quatro mulheres entraram no quarto de Mariana, encontraram a sinhá sentada em uma cadeira de espaldar alto, vestida completamente de preto, como se estivesse de luto. Sobre a mesa, ao lado dela, havia uma bandeja de prata contendo facas de cozinha de diferentes tamanhos, uma tesoura grande de poda, agulha e linha cirúrgica e garrafas de cachaça.

“Fechem a porta”, ordenou Mariana com voz calma e controlada. “Vocês vão aprender hoje uma lição que nunca esquecerão.” As quatro escravas trocaram olhares apavorados, mas obedeceram; sabiam que a desobediência resultaria em punição ainda pior. Mariana levantou-se lentamente e começou a circular ao redor delas, como um predador analisando presas.

“Vocês pensam que eu não sei o que fazem quando meu marido está em casa?”, começou Mariana. “Pensam que não percebo como se arrumam melhor nos dias em que ele está presente? Como caminham diferente? Falam mais suave, sorriem mais? Todas vocês são iguais. Negras sem-vergonhas que querem seduzir homens brancos para melhorar de vida.”

Benedita, a mais velha do grupo, tentou defender-se. “Sinhá, nós nunca…” “Silêncio!”, rugiu Mariana, esbofeteando Benedita com força suficiente para derrubar a escrava no chão. “Eu não dei permissão para falarem. Vocês vão apenas ouvir e obedecer.” Mariana então revelou seu plano com detalhes que demonstravam quanto tempo havia passado planejando aquilo.

Cada uma das quatro escravas teria que escolher uma faca da bandeja e cortar seu próprio seio esquerdo; não completamente, mas profundamente o suficiente para causar desfiguração permanente. Mariana explicou que queria que elas ficassem marcadas de forma que nenhum homem jamais as achasse atraentes novamente. “Se recusarem”, disse Mariana calmamente, “ordenarei que seus filhos sejam vendidos para fazendas no Maranhão, onde trabalharão até a morte em canaviais.”

“Benedita, você tem três filhos, não? Rita, dois. Francisca, seu bebê tem apenas 6 meses. Teresa, seus gêmeos têm 4 anos. Todos serão vendidos amanhã, mesmo se vocês não obedecerem.” A ameaça era real. Mariana tinha poder absoluto sobre o destino daquelas crianças. As quatro mulheres começaram a chorar, implorando por misericórdia.

Mariana permaneceu impassível, bebendo vinho enquanto observava o desespero delas. “Vocês têm até eu terminar esta taça para decidirem”, disse Mariana. “Depois disso, começo a vender as crianças uma por uma.” O que aconteceu a seguir foi tão perturbador que as testemunhas que souberam através de relatos das próprias vítimas ficaram marcadas para sempre.

Benedita, desesperada para salvar seus três filhos, foi a primeira a pegar uma faca. Suas mãos tremiam incontrolavelmente enquanto segurava a lâmina contra o próprio peito. “Vamos, Benedita”, incentivou Mariana com um tom quase maternal. “Quanto mais rápido fizer, mais rápido a dor passa. E pense em seus filhos; você está salvando a vida deles.”

Benedita fechou os olhos, mordeu um pano que Mariana havia providenciado e, com um movimento rápido e desesperado, cortou profundamente a lateral de seu seio esquerdo. O grito que ela soltou foi tão agudo que as outras três escravas taparam os ouvidos. O sangue jorrou imediatamente, manchando o chão de madeira.

Benedita caiu de joelhos, ainda segurando a faca ensanguentada. Mariana aproximou-se calmamente, examinou o ferimento como um médico avaliando uma cirurgia e então pegou a garrafa de cachaça. “Isso vai doer”, disse antes de despejar o líquido diretamente no corte aberto. Benedita desmaiou imediatamente. Mariana ordenou que as outras a arrastassem para o canto do quarto e a deixassem lá.

“Próxima”, disse Mariana, como se estivesse dirigindo uma fila em uma loja. Rita, a mais jovem, estava paralisada de terror. Não conseguia se mover, não conseguia falar, apenas chorava convulsivamente. Mariana perdeu a paciência e chamou dois capangas que esperavam do lado de fora. Eles entraram, seguraram Rita com força e a forçaram a pegar a faca.

“Se você não cortar”, disse Mariana friamente, “eu mando eles cortarem seus dois filhos na frente de você. Escolha.” Com a faca sendo forçada em sua mão pelos capangas, Rita finalmente cedeu, mas suas mãos tremiam tanto que o primeiro corte foi superficial. Mariana ficou furiosa. “Mais profundo!”, gritou. “Você acha que isso é suficiente? Corte de verdade ou seus filhos morrem hoje.”

Rita, soluçando incontrolavelmente, fez um segundo corte mais profundo e depois um terceiro. O sangue escorria por seu corpo enquanto ela mutilava a si mesma sob o olhar satisfeito de Mariana. Quando finalmente desmaiou, Mariana permitiu que os capangas a arrastassem para junto de Benedita. Francisca e Teresa assistiram a tudo em horror absoluto. Sabiam que seriam as próximas.

Sabiam que não havia escapatória. Francisca, mãe de um bebê de 6 meses, decidiu terminar rapidamente. Pegou a tesoura de poda ao invés da faca, posicionou as lâminas ao redor de seu mamilo e apertou com força. O tecido foi cortado de uma vez, causando hemorragia imediata. Ela caiu no chão, sangrando profusamente, mas consciente do que havia feito para salvar seu filho.

Teresa, a última, estava em estado de choque total. Mariana teve que esbofeteá-la repetidamente para fazê-la reagir. Quando finalmente pegou a faca, Teresa olhou diretamente nos olhos de Mariana e disse: “A senhora vai pagar por isso neste mundo ou no próximo, mas vai pagar”. Mariana sorriu. “Ameaças vazias de negra desesperada.”

“Agora corte ou seus gêmeos morrem.” Teresa cortou. Mas enquanto o fazia, repetia em voz baixa palavras em iorubá, a língua de seus ancestrais africanos. Era uma maldição, uma invocação aos orixás para que vingassem aquela atrocidade. Mariana não entendia as palavras, mas sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvi-las.

Quando as quatro escravas estavam no chão, algumas desacordadas, outras gemendo de dor, Mariana finalmente chamou uma quinta mucama, Josefa, que havia permanecido do lado de fora. “Limpe essa bagunça”, ordenou casualmente, como se estivesse pedindo para limpar vinho derramado. “E cuide delas; não quero que morram, ainda precisam trabalhar.”

Mariana então subiu para seu quarto, tomou banho, vestiu-se para o jantar e comeu normalmente, como se nada extraordinário tivesse acontecido. Naquela noite escreveu em seu diário: “Hoje tomei as medidas necessárias para proteger meu casamento. Rodrigo nunca saberá o quanto o protejo de tentações.” As quatro escravas sobreviveram, mas ficaram permanentemente mutiladas e traumatizadas.

Benedita desenvolveu uma infecção que quase a matou. Rita nunca mais conseguiu amamentar os filhos que teve depois. Francisca perdeu completamente o seio esquerdo devido à gangrena. Teresa ficou com cicatrizes que a faziam sentir dor constante pelo resto da vida. Mas o pior ainda estava por vir, porque Mariana não havia terminado.

Ela estava apenas começando. Se esta narrativa está impactando você, deixe seu like e compartilhe. Estas histórias precisam ser contadas para que nunca sejam esquecidas. Comente o que você está pensando sobre tudo isso. Nosso trabalho de pesquisa histórica depende do apoio de vocês para continuar trazendo essas verdades à luz.

Quando Rodrigo Almeida Castro retornou de Salvador em outubro de 1878, encontrou a fazenda Santa Eulália aparentemente funcionando normalmente. Os canaviais estavam sendo colhidos. A moenda operava sem interrupções. Os escravos trabalhavam nas rotinas habituais. Mariana o recebeu com um sorriso afetuoso, perguntando sobre a viagem e os negócios.

Jantaram juntos, conversaram sobre os filhos, dormiram na mesma cama. Rodrigo não desconfiou de nada. Os feitores que haviam sido instruídos a vigiá-la não viram nada suspeito, porque Mariana realizara suas atrocidades dentro de seus aposentos privados, área onde nenhum homem além de Rodrigo poderia entrar. As quatro escravas mutiladas foram mantidas afastadas da Casa Grande durante duas semanas, supostamente doentes com febre.

Quando finalmente retornaram ao trabalho, usavam roupas que escondiam completamente seus corpos. E Mariana havia instruído que qualquer uma que contasse a verdade veria seus filhos vendidos e torturados. Benedita, Rita, Francisca e Teresa mantiveram silêncio. Trabalhavam com suas feridas ainda cicatrizando sob os tecidos, sentindo dor a cada movimento, mas sem revelar o que havia acontecido.

À noite, nas senzalas, choravam silenciosamente e compartilhavam seu sofrimento apenas entre si. Outras escravas sabiam que algo terrível havia ocorrido, mas os detalhes exatos permaneciam conhecidos apenas pelas vítimas. Teresa, que havia amaldiçoado Mariana em iorubá durante a mutilação, começou a procurar a única pessoa na fazenda que poderia ajudá-las.

Pai Tomás, um escravo de 68 anos que era respeitado como Babalorixá, sacerdote do candomblé. Tomás trabalhava nas estrebarias e tinha permissão especial de Rodrigo para realizar cerimônias religiosas discretas nas senzalas, desde que não interferissem no trabalho. Uma noite, Teresa procurou o pai Tomás em sua cabana pequena nos fundos da senzala.

Mostrou-lhe suas feridas, contou-lhe exatamente o que Mariana havia feito e pediu-lhe que invocasse os orixás para vingar aquela injustiça. Tomás ouviu tudo em silêncio, examinando as cicatrizes horríveis que marcavam o corpo de Teresa. “Os orixás veem tudo”, disse Tomás finalmente. “E Xangô, o Senhor da Justiça, não deixa maldade sem punição.”

“Mas a vingança dos deuses é diferente da vingança dos homens. Pode demorar, pode vir de forma inesperada, mas sempre chega.” Naquela mesma noite, pai Tomás realizou uma cerimônia secreta envolvendo apenas as quatro vítimas de Mariana. Ele preparou um ebó, oferenda ritual para Oiá, a senhora dos ventos e das tempestades, conhecida por proteger mulheres oprimidas.

Tomás explicou que estavam pedindo justiça divina, não vingança humana. A diferença era crucial. A justiça divina seria proporcional e inevitável, mas viria no tempo dos orixás, não no tempo dos homens. Durante a cerimônia, as quatro mulheres choraram todas as lágrimas que haviam reprimido. Cantaram, dançaram apesar da dor física e deixaram sua angústia fluir.

Pai Tomás jogou os búzios e leu uma mensagem que deixou todos em silêncio: “Aquela que causou dor terá a dor multiplicada. Seu próprio corpo a trairá. Ela apodrecerá em vida antes de apodrecer na morte.” As palavras pareciam proféticas, mas naquele momento eram apenas consolo espiritual para mulheres desesperadas. Enquanto isso, na Casa Grande, Mariana já planejava suas próximas vítimas.

Em novembro de 1878, ela notou que Rodrigo havia elogiado o trabalho de Luísa, uma escrava de 23 anos que trabalhava na cozinha. O elogio foi completamente inocente, reconhecendo que o doce de goiaba que ela preparara estava excepcionalmente bom. Mas para Mariana, qualquer interação positiva entre seu marido e uma escrava jovem era evidência de interesse sexual.

Mariana esperou pacientemente até que Rodrigo viajasse novamente, desta vez para Recife, onde ficaria três semanas. No segundo dia após sua partida, convocou Luísa para seus aposentos. Luísa havia ouvido rumores vagos sobre o que acontecera com Benedita, Rita, Francisca e Teresa meses antes. Ninguém falava abertamente sobre o assunto, mas havia sussurros nas senzalas.

Quando recebeu a convocação de Mariana, sentiu terror imediato. Tentou enviar uma mensagem para Rodrigo através de um feitor amigo, mas ele já estava longe demais para receber o aviso a tempo. Quando Luísa entrou nos aposentos de Mariana, encontrou a mesma cena que as outras haviam encontrado: a sinhá vestida de preto, a bandeja de prata com facas e tesouras, as garrafas de cachaça para desinfecção.

Mas havia uma diferença. Mariana havia refinado seu método. Desta vez, ela havia trazido um médico corrupto, o Dr. Augusto Mendes, que concordara em supervisionar a mutilação em troca de um pagamento generoso e ameaças veladas. A presença do médico servia a dois propósitos: garantir que a vítima não morresse de hemorragia e dar uma aparência de legitimidade médica ao procedimento.

“Luísa!”, começou Mariana com voz quase doce. “Você seduziu meu marido com seus doces. Usou feitiçaria de cozinha para conquistar sua atenção. Agora pagará o preço.” Luísa caiu de joelhos, implorando. “Sinhá, eu nunca… Apenas faço meu trabalho. Por favor, tenho dois filhos.” Mariana sorriu. “Exatamente. Dois filhos que nunca mais verá se não obedecer. O Dr. Mendes está aqui para garantir que sobreviva ao procedimento.”

“Isso pode ser rápido e relativamente indolor se cooperar, ou pode ser lento e agonizante se resistir. Escolha.” O Dr. Mendes, um homem de 50 anos que havia perdido sua licença médica no Rio de Janeiro por alcoolismo, aproximou-se de Luísa com a expressão de quem realizava uma cirurgia de rotina.

Ele estava sendo pago 50 mil réis, quantia equivalente a 3 meses de salário médio, para supervisionar aquela barbárie. “Vou aplicar éter para que desmaie durante o procedimento”, disse o Dr. Mendes. “Quando acordar, estará enfaixada e cicatrizando. É melhor assim”. Luísa foi sedada e acordou duas horas depois, com uma dor indescritível no peito.

Quando olhou para baixo, viu bandagens grossas cobrindo todas as áreas. Mariana estava sentada ao lado da cama bebendo vinho e lendo um livro, como se tivesse passado a tarde relaxando. “Bem-vinda de volta”, disse Mariana. “O Dr. Mendes fez um trabalho excelente. Seu seio esquerdo foi completamente removido. Agora você nunca mais será atraente para nenhum homem.”

“Pode voltar para as senzalas amanhã e retomar suas funções na cozinha. E lembre-se: uma palavra sobre isso e seus filhos morrem.” Luísa chorou silenciosamente, a dor física se misturando com a dor emocional de ter sido mutilada enquanto inconsciente, sem nem ao menos poder se despedir da parte de seu corpo que foi arrancada. Mas a presença do Dr. Mendes criara uma situação perigosa para Mariana.

Agora havia uma testemunha externa das mutilações, alguém que poderia potencialmente denunciá-la às autoridades. Mariana resolveu isso da forma mais direta possível: chantagem. Ela havia investigado o passado do Dr. Mendes antes de contratá-lo; sabia sobre os pacientes que morreram sob seus cuidados no Rio de Janeiro, sobre o vício em ópio que ele desenvolvera, sobre as dívidas de jogo que o haviam arruinado.

Compilou todas essas informações e apresentou-as ao médico numa conversa privada. “Dr. Mendes”, disse Mariana, “você agora é meu cúmplice. Se eu for denunciada, você também será. Mas mais que isso: se alguma palavra sobre nosso acordo vazar, usarei minha influência para garantir que seja preso pelos crimes que cometeu no Rio de Janeiro.”

“Por outro lado, se continuar cooperando, pagarei generosamente por seus serviços e garantirei sua segurança.” O Dr. Mendes não tinha escolha. Tornara-se ferramenta de Mariana, permitindo que ela escalasse suas atrocidades com a aparência de procedimentos médicos. Nos meses seguintes, entre novembro de 1878 e março de 1879, Mariana mutilou mais três escravas usando o mesmo método.

Sedação com éter, remoção cirúrgica do seio esquerdo, ameaças contra os filhos para garantir silêncio. As vítimas foram: Josefa, 27 anos, que Mariana acusou de olhar sugestivamente para Rodrigo durante a missa na capela; Catarina, 20 anos, que havia cantado uma música enquanto lavava roupas, e Mariana interpretou a canção como uma mensagem codificada de sedução; Helena, 25 anos, que simplesmente era bonita demais segundo os critérios perturbados de Mariana.

Cada procedimento era documentado meticulosamente pelo Dr. Mendes em um caderno que ele mantinha escondido, incluindo esboços das mutilações e notas sobre as reações das vítimas. Ele justificava para si mesmo que estava documentando para a posteridade, mas na verdade era evidência que poderia ser usada contra ele.

A fazenda Santa Eulália agora tinha oito escravas permanentemente mutiladas, todas trabalhando normalmente, todas mantendo silêncio absoluto sob ameaças constantes. O clima nas senzalas era de terror generalizado. Todas as mulheres jovens viviam com medo de serem as próximas. Algumas tentavam se tornar deliberadamente feias, cortando os próprios cabelos de forma irregular, sujando-se propositalmente, desenvolvendo más posturas.

Rodrigo continuava sem saber de nada. Suas viagens de negócios mantinham-no ausente por semanas a cada mês. E quando estava presente, Mariana agia como esposa dedicada e mãe amorosa. Ele notou que algumas escravas pareciam mais tristes e quietas, mas atribuiu isso ao trabalho pesado e às condições normais da escravidão.

Foi apenas em abril de 1879 que a primeira rachadura no silêncio começou a aparecer. Uma das escravas mutiladas, Francisca, desenvolveu uma infecção grave em sua cicatriz. A ferida reabriu, liberando pus e sangue. A dor era tão intensa que ela não conseguia mais trabalhar. Mariana, preocupada que a morte de Francisca pudesse levantar questões, permitiu que o Dr. Mendes a tratasse adequadamente.

Durante o tratamento, um dos filhos de Francisca, Pedro, de apenas 8 anos, viu pela primeira vez as feridas de sua mãe quando o médico trocava os curativos. O menino ficou horrorizado e começou a fazer perguntas. Francisca tentou mentir, dizendo que havia sido um acidente, mas Pedro era inteligente para sua idade.

Ele sabia que feridas de acidentes não tinham aquela aparência cirúrgica. Pedro começou a investigar por conta própria, conversando discretamente com outras crianças nas senzalas. Gradualmente, reuniu informações suficientes para entender que sua mãe e várias outras mulheres haviam sido deliberadamente mutiladas por Mariana.

A revelação plantou no coração daquele menino de 8 anos uma semente de ódio que cresceria até a idade adulta. Mas no momento, Pedro não tinha poder para fazer nada. Era apenas uma criança escrava completamente impotente contra o sistema que o aprisionava. Tudo que podia fazer era cuidar de sua mãe e testemunhar seu sofrimento.

Enquanto isso, Mariana já planejava sua próxima vítima e, desta vez, cometeria o erro que finalmente começaria a desmantelar sua impunidade. Você está acompanhando Sombras da Escravidão, o único canal que traz estas histórias devastadoras com toda a verdade. Se este conteúdo é importante para você, deixe seu like agora. Compartilhe para que mais pessoas conheçam o que realmente acontecia nas fazendas brasileiras.

Comente dizendo o que você acha que deveria ter acontecido com Mariana. Seu engajamento permite que continuemos este trabalho de resgate histórico. Em maio de 1879, Mariana cometeu o erro que eventualmente levaria à sua ruína, mas não da forma que qualquer um esperaria. Ela decidiu mutilar Amélia, uma escrava de 19 anos que trabalhava como costureira na Casa Grande.

A escolha de Amélia foi particularmente cruel porque a jovem era surda-muda desde o nascimento, comunicando-se apenas através de gestos que apenas alguns na fazenda compreendiam. A escolha de uma vítima surda-muda revelava o nível de depravação a que Mariana havia chegado. Ela sabia que Amélia teria ainda mais dificuldade para comunicar o que havia acontecido e que sua deficiência a tornava ainda mais vulnerável.

Além disso, Mariana desenvolvera uma justificativa perturbada para a mutilação: Amélia havia olhado para Rodrigo de forma inapropriada durante uma visita à sala de costura. O procedimento foi realizado seguindo o padrão estabelecido: sedação com éter, presença do Dr. Mendes, remoção cirúrgica completa do seio esquerdo, ameaças contra familiares.

Mas desta vez algo deu terrivelmente errado. Amélia teve uma reação alérgica severa ao éter. Seu corpo começou a convulsionar violentamente na mesa cirúrgica, espuma saindo de sua boca, olhos revirando. O Dr. Mendes, em pânico, tentou reverter a reação, mas seus conhecimentos médicos desatualizados e embotados pelo álcool eram insuficientes.

Amélia sobreviveu, mas sofreu danos cerebrais que a deixaram em estado semicatatônico. Ela não apenas ficou mutilada, mas também perdeu grande parte de suas capacidades cognitivas. Mariana percebeu imediatamente que havia um problema. Uma escrava surda-muda que realizava trabalho delicado de costura era valiosa.

Uma escrava surda-muda, mutilada e mentalmente incapacitada era apenas um fardo econômico. Pior ainda, a transformação dramática de Amélia seria impossível de esconder. Quando Rodrigo retornou de sua viagem a Recife, uma semana depois, imediatamente notou a ausência de Amélia na sala de costura. Perguntou sobre ela e foi informado por Mariana que a escrava havia sofrido um ataque e estava sendo cuidada nas senzalas.

Rodrigo, que valorizava Amélia por suas habilidades excepcionais com agulha e linha, decidiu visitá-la pessoalmente para avaliar se ela poderia retornar ao trabalho. Esta decisão simples desencadearia uma série de eventos que eventualmente revelariam a verdade. Quando Rodrigo entrou na cabana onde Amélia estava sendo mantida, encontrou uma cena que o chocou profundamente.

A jovem estava deitada em uma esteira no chão, olhos vidrados, babando, completamente incapaz de responder a estímulos. Ao lado dela estava sua mãe, Rosa, que cuidava da filha com devoção desesperada. “O que aconteceu com ela?”, perguntou Rodrigo a Rosa. Rosa hesitou. Ela sabia que contar a verdade significaria condenar à morte sua filha mais nova, Ana, de apenas 12 anos, que Mariana havia ameaçado caso alguém falasse.

Mas olhando para o estado deplorável de Amélia, algo quebrou dentro dela. Decidiu que algumas verdades eram importantes demais para serem enterradas. “Senhor”, começou Rosa com voz trêmula. “Minha filha não teve ataque nenhum. A sinhá mandou o Dr. Mendes fazer cirurgia nela. Cortou, cortou o peito dela, senhor, e algo deu errado com o remédio que deram.”

“Ela ficou assim depois.” Rodrigo ficou paralisado. “Que cirurgia? Por que minha esposa ordenaria tal coisa?” Rosa, agora chorando, contou tudo. Não apenas sobre Amélia, mas sobre todas as outras: Joana, Benedita, Rita, Francisca, Teresa, Luísa, Josefa, Catarina, Helena. Nove mulheres mutiladas ao longo de um ano, todas sob ordens diretas de Mariana, todas usando ameaças contra seus filhos para mantê-las em silêncio.

Rodrigo sentiu seu mundo desmoronar. Casara-se com um monstro, compartilhava a cama com alguém capaz de atrocidades que ultrapassavam até mesmo os padrões brutais da escravidão. Mas sua primeira reação não foi de horror moral, e sim preocupação com as consequências sociais e legais. “Alguém mais sabe disso?”, perguntou urgentemente.

“Apenas as vítimas e suas famílias, senhor. E o Dr. Mendes. Todos têm medo demais para falar.” Rodrigo passou as próximas horas verificando pessoalmente cada uma das vítimas. Rosa o levou de cabana em cabana, onde ele viu com os próprios olhos as cicatrizes grotescas, as desfigurações permanentes, o trauma psicológico estampado nos rostos daquelas mulheres.

Cada visita confirmava o horror do que sua esposa havia feito. Naquela noite, Rodrigo confrontou Mariana em seus aposentos. A discussão que se seguiu revelaria não apenas a profundidade da loucura de Mariana, mas também as limitações morais do próprio Rodrigo. “Como você pôde?”, gritou Rodrigo. “Como pôde mutilar nove mulheres? Você destruiu propriedades valiosas!”

“Amélia era nossa melhor costureira.” Note que sua primeira objeção foi econômica, não moral. Mariana percebeu isso imediatamente. “Propriedades?”, riu Mariana com amargura. “Você se preocupa com o valor delas? Não com o que fizeram para merecer castigo.” “O que fizeram? Rosa me contou tudo. Elas não fizeram nada. Você inventou essas acusações absurdas de sedução.”

Mariana levantou-se, caminhando até a janela com postura digna. “Você não entende porque é homem. Não percebe como essas negras te olham, como planejam roubar você de mim. Eu protegi nosso casamento, nossa família, nossa honra.” “Você é louca”, disse Rodrigo, a realização finalmente penetrando. “Completamente louca. Precisa ser internada.”

Mariana virou-se com olhos flamejantes. “Ouse me internar e contarei a todos sobre suas próprias transgressões. As dívidas de jogo que esconde de mim, os negócios ilícitos com escravos contrabandeados, os impostos que sonegou. Tenho documentos de tudo. Se eu cair, você cai comigo.” Era verdade. Mariana havia passado anos compilando evidências de todas as atividades questionáveis de Rodrigo.

Ela sempre planejava à frente, sempre preparava a alavancagem. Rodrigo percebeu que estava em uma armadilha sem saída aparente. Eles chegaram a um acordo nauseante naquela noite. Mariana pararia com as mutilações. O Dr. Mendes seria discretamente dispensado e ameaçado com ruína total se alguma vez falasse.

As vítimas receberiam cuidados médicos adequados, mas continuariam trabalhando. E, mais importante, tudo seria mantido em absoluto segredo. Rodrigo justificou para si mesmo que estava protegendo a família, os filhos, o legado familiar. Na verdade, estava sendo cúmplice de crimes hediondos por conveniência e covardia. Mas havia um problema.

As vítimas não eram objetos passivos; eram seres humanos com agência, memória e desejo de justiça. E entre elas, Teresa, a mulher que havia amaldiçoado Mariana em iorubá, começou a organizar algo que ultrapassaria a compreensão tanto de Mariana quanto de Rodrigo. Teresa procurou novamente o pai Tomás nas senzalas. “A justiça dos homens brancos não virá”, disse ela.

“Eles protegem os seus. Precisamos da justiça dos orixás.” Pai Tomás realizou então a cerimônia mais poderosa de sua vida. Reuniu não apenas as nove vítimas diretas, mas também as mães, irmãs, filhas e amigas de cada uma. 43 mulheres no total, formando um círculo numa clareira escondida na mata próxima à fazenda. Durante uma noite sem lua de junho de 1879, a cerimônia durou até o amanhecer.

Pai Tomás invocou Oiá, Xangô, Iansã e Ogum. Cada mulher colocou no centro do círculo um objeto pessoal de Mariana que haviam roubado ao longo dos meses: um lenço, um pente, fragmentos de cabelo, pedaços de tecido de suas roupas. Esses objetos foram queimados em uma fogueira ritual enquanto pai Tomás cantava em iorubá.

“Aquela que causou dor sentirá a dor multiplicada. Sua carne apodrecerá como apodreceu a alma. Seu corpo a trairá como ela traiu a humanidade. Ela morrerá mil mortes antes da morte final.” As mulheres repetiram as palavras, suas vozes crescendo em intensidade até se tornarem um grito coletivo que ecoou pela floresta.

Uma energia palpável preencheu o ar. Algo entre fé desesperada e raiva concentrada de décadas de opressão. Pai Tomás lançou a oferenda final no fogo: uma boneca de pano que havia feito à imagem de Mariana, com alfinetes cravados no peito esquerdo, exatamente onde ela havia ordenado que as mulheres se mutilassem. “Está feito”, declarou Tomás quando o amanhecer rompeu.

“Os orixás ouviram: a justiça virá”. As mulheres retornaram às senzalas antes que alguém notasse sua ausência. Nos dias seguintes, continuaram trabalhando normalmente, carregando suas mutilações e traumas, mas agora com algo novo em seus corações: a esperança de que forças além do mundo visível trariam equilíbrio. Mariana não sabia de nada disso.

Continuava sua vida como sempre, convencida de que havia escapado das consequências. Rodrigo mantinha as aparências, mas evitava tocar sua esposa, dormindo em quartos separados sob o pretexto de problemas de saúde. Durante três anos, entre 1879 e 1882, a fazenda Santa Eulália operou com essa mentira coletiva.

As nove mulheres mutiladas trabalhavam, criavam seus filhos, sobreviviam. Mariana envelheceu, desenvolvendo rugas profundas e cabelos grisalhos prematuros. Rodrigo focou nos negócios, passando cada vez menos tempo em casa. Os filhos cresceram, alheios aos horrores que haviam acontecido sob seu próprio teto. Mas em agosto de 1882, exatamente 4 anos após a primeira mutilação de Joana, algo estranho começou a acontecer com Mariana.

Ela acordou uma manhã com uma pequena mancha escura na pele de seu peito esquerdo, exatamente sobre seu próprio seio, na mesma posição onde havia ordenado que as escravas se mutilassem. A mancha tinha aspecto de queimadura, mas ela não se lembrava de ter se machucado. Chamou o doutor Santos, o médico da família (diferente do corrupto Dr. Mendes, que havia deixado a região).

Ele examinou a marca e disse ser provavelmente uma melanose, uma condição benigna de pele. Prescreveu uma pomada e disse que desapareceria em semanas, mas não desapareceu. Ao contrário: cresceu e começou a doer. Uma dor pulsante, queimante, que nenhum medicamento aliviava. Mariana tentou esconder de todos, cobrindo-se com roupas de gola alta, mas a dor a mantinha acordada à noite, fazendo-a gemer e chorar.

Em setembro, a mancha havia triplicado de tamanho e começou a exalar um odor leve, mas distintamente desagradável. O Dr. Santos ficou preocupado e recomendou uma viagem ao Rio de Janeiro para consultar especialistas. Mariana recusou, com medo de que um exame médico revelasse algo que ela não queria descobrir.

Em outubro, a área afetada começou a necrosar. A pele literalmente morria, tornando-se preta e dura como couro queimado. O odor intensificou-se, obrigando Mariana a usar perfumes pesados para disfarçar. Ela parou de sair de seus aposentos, alegando enxaquecas. Em novembro, a necrose começou a se espalhar.

Como um câncer agressivo, invadiu tecidos circundantes, descendo pelo tórax, subindo pelo pescoço. Médicos foram chamados de Salvador, de Recife, até do Rio de Janeiro. Nenhum conseguiu explicar o que estava acontecendo. Não era câncer comum, não era infecção bacteriana, não era nada que a medicina da época pudesse identificar. Em dezembro de 1882, Mariana estava confinada à cama permanentemente.

A metade superior de seu corpo estava coberta por uma necrose progressiva. A carne podre precisava ser removida periodicamente por médicos nauseados. O odor era tão forte que as enfermeiras se recusavam a cuidar dela, tendo que ser forçadas sob ameaças de Rodrigo. Em janeiro de 1883, a necrose alcançou seu rosto.

Mariana viu no espelho sua própria face apodrecendo, a pele descascando em pedaços, revelando músculo e osso por baixo. Ela começou a gritar que estava sendo amaldiçoada, que as negras haviam feito feitiçaria contra ela. Rodrigo chamou padres para exorcismo, chamou médicos espíritas, chamou até curandeiros locais. Nada funcionou.

Mariana continuava apodrecendo viva e, durante todo esse tempo, nas senzalas, as nove mulheres mutiladas observavam em silêncio. Não celebravam abertamente, pois isso seria perigoso, mas entre si sussurravam: “Os orixás ouviram, a justiça chegou.” Se você está acompanhando esta história devastadora até aqui, deixe seu like para apoiar nosso trabalho.

Compartilhe para que mais pessoas conheçam a verdade. Comente o que você está sentindo. Estas narrativas precisam ser preservadas para que jamais sejam esquecidas. Os primeiros meses de 1883 foram um pesadelo vivo para Mariana Eugênia dos Santos. A necrose continuou se espalhando de forma que desafiava toda a lógica médica. Não seguia padrões de infecção conhecidos, não respondia a nenhum tratamento; simplesmente avançava, consumindo seu corpo vivo, pedaço por pedaço.

Em fevereiro, ela perdeu completamente o seio esquerdo, não por cirurgia médica, mas porque o tecido necrosado simplesmente desprendeu-se de seu corpo numa manhã, deixando uma cavidade aberta que revelava costelas expostas. O cheiro era tão insuportável que todos os criados da Casa Grande se recusaram a subir ao segundo andar, onde ela estava confinada.

Rodrigo contratou enfermeiras particulares do Rio de Janeiro, pagando fortunas para que cuidassem de sua esposa. A maioria durava apenas dias antes de desistir, incapaz de suportar a combinação de odor nauseante, visão grotesca e gritos incessantes de Mariana. Ela havia perdido completamente a dignidade que tanto prezava, defecando e urinando na cama, babando, chorando como criança.

Os três filhos de Mariana e Rodrigo foram mandados para Salvador, para a casa de parentes, protegidos da visão do que sua mãe estava se tornando. Inácio, Eulália e Rodrigo Júnior cresceriam com memórias vagas de uma mãe distante, que morreu de uma doença misteriosa; a verdade completa nunca lhes seria contada. Em março, a necrose alcançou as extremidades de Mariana.

Seus dedos começaram a escurecer e apodrecer. Médicos tiveram que amputar três dedos da mão direita e dois da esquerda, mas mesmo após a amputação, a podridão continuava avançando pelos cotos. O Dr. Francisco Almeida, o médico mais respeitado de Salvador que Rodrigo havia contratado por uma quantia obscena, examinou Mariana em abril e escreveu em um relatório confidencial: “Jamais vi algo assim em 30 anos de medicina.”

“A paciente apresenta uma necrose progressiva que não responde a qualquer tratamento conhecido. É como se seu corpo estivesse rejeitando a própria vida, apodrecendo de dentro para fora.” Confesso que não tenho explicação médica para este fenômeno, mas Mariana tinha uma explicação. Em seus momentos de lucidez, entre gritos de dor e delírios febris, ela dizia repetidamente: “São elas, as negras me amaldiçoaram.”

“Estou pagando pelo que fiz. Os deuses delas são mais poderosos que o nosso Deus.” Rodrigo tentou ignorar essas declarações como delírios causados pela dor e medicamentos. Mas parte dele se perguntava se haveria verdade nisso. Ele havia visto coisas inexplicáveis ao longo de sua vida nas fazendas.

Rituais de candomblé que pareciam ter efeitos reais, predições que se cumpriam, curas que a medicina convencional não conseguia explicar. Numa noite de desespero, Rodrigo fez algo impensável para um homem de sua posição: desceu às senzalas e procurou o pai Tomás. O encontro aconteceu numa cabana pequena e escura, iluminada apenas por velas.

Rodrigo, acostumado a dar ordens, encontrou-se na posição de suplicante diante de um escravo de 70 anos. “Você pode desfazer isso?”, perguntou Rodrigo sem rodeios. “Seja lá o que vocês fizeram com minha esposa, pode reverter?” Pai Tomás olhou para ele com olhos que haviam visto décadas de sofrimento. “Não fizemos nada ao corpo dela, senhor.”

“Apenas pedimos justiça aos orixás. Se eles responderam, é porque o crime era grave demais para ser ignorado.” “Ela está morrendo de forma horrível. Isso é vingança, não justiça.” “Com todo respeito, senhor, o senhor sabe o que sua esposa fez com nove mulheres. Mutilou-as enquanto estavam acordadas, forçou-as a se cortar.”

“Uma delas, Amélia, ficou permanentemente danificada no cérebro. Teresa tem dores constantes que nunca passarão. Benedita quase morreu de infecção. Isso não é horrível?” Rodrigo não tinha resposta. Sabia que Tomás estava certo. “Se eu libertar todas vocês”, disse Rodrigo finalmente, “se der alforria para as nove vítimas e suas famílias, isso fará diferença?” Pai Tomás considerou a proposta.

“Os orixás já decidiram o destino de sua esposa. Nada que o senhor faça mudará isso. Mas se o senhor der a alforria às vítimas, talvez encontre paz para sua própria consciência e talvez salve sua alma da mesma maldição.” Rodrigo tremeu ao ouvir aquilo. Ele não era um homem religioso, mas naquele momento sentiu um medo genuíno de forças além de sua compreensão.

“Farei isso. Prepararei os papéis de alforria amanhã.” “Então que Olorum tenha misericórdia de sua alma, senhor.” Rodrigo cumpriu sua palavra. No dia seguinte, preparou documentos de alforria para Joana, Benedita, Rita, Francisca, Teresa, Luísa, Josefa, Catarina e Helena, mais todos os seus filhos e cônjuges.

47 pessoas no total foram libertadas. Quando Teresa recebeu seu papel de alforria, segurou o documento com mãos trêmulas. Após 42 anos como escrava, 27 deles naquela fazenda, estava livre; mas a liberdade veio manchada com sangue e um trauma que carregaria até a morte. “Os orixás ouviram nossas preces”, disse Teresa às outras vítimas quando todas se reuniram.

“Mariana paga pelo que fez e agora somos livres para começar uma vida nova.” Mas a liberdade não apagava as cicatrizes físicas ou emocionais. Cada uma daquelas nove mulheres carregaria as marcas de Mariana pelo resto de suas vidas. Algumas se mudariam para outras cidades, tentando recomeçar onde ninguém conhecia sua história. Outras permaneceriam na região porque não tinham recursos ou energia para ir a outro lugar.

Enquanto isso, na Casa Grande, Mariana entrou em seus últimos dias de agonia. Em julho de 1883, ela havia perdido completamente a visão. Seus olhos haviam necrosado, deixando apenas cavidades vazias em seu crânio. Seu nariz caíra, deixando uma abertura grotesca no centro do rosto. Seus lábios haviam apodrecido, expondo dentes e gengivas em um sorriso permanente e macabro.

Ela não conseguia mais falar claramente, apenas emitir sons guturais que ninguém conseguia decifrar. Mas todos que cuidavam dela diziam que às vezes, no meio da noite, ouviam-na sussurrar palavras que pareciam pedidos de perdão em línguas que eles não reconheciam. Em 14 de agosto de 1883, exatamente 5 anos após ela mutilar Joana pela primeira vez, Mariana Eugênia dos Santos finalmente morreu.

Seu corpo estava tão apodrecido que praticamente se desintegrou quando tentaram movê-lo. Não houve velório com caixão aberto; não podia haver. O corpo foi envolvido em lençóis embebidos em cal e enterrado imediatamente num caixão lacrado. O padre local se recusou a realizar a missa de corpo presente, dizendo que aquilo era obra do demônio e que ele não queria parte nisso.

Mariana foi enterrada numa cerimônia privada que durou apenas 15 minutos, com a presença apenas de Rodrigo e dois criados pagos para cavar a cova. Não houve lágrimas, não houve luto genuíno; apenas o alívio de que aquilo finalmente havia terminado. Nas senzalas, as nove mulheres libertadas realizaram sua própria cerimônia, não de celebração pela morte de Mariana, mas de agradecimento aos orixás pela justiça.

Pai Tomás liderou o ritual onde cada mulher colocou no fogo um objeto que representava seu sofrimento: pedaços de tecido que haviam usado para cobrir mutilações, lenços embebidos em lágrimas, pequenos objetos que guardavam como lembretes. “Hoje queimamos não apenas estas coisas”, disse pai Tomás, “mas também o poder que Mariana tinha sobre vocês.”

“Ela está morta, vocês estão vivas. Vocês venceram.” Teresa, a mulher que havia amaldiçoado Mariana 4 anos antes, olhou para o fogo e sentiu algo que não sentia há muito tempo: paz. Não era felicidade, pois as marcas em seu corpo doeriam até o dia de sua morte. Mas era a paz de saber que a justiça de alguma forma havia sido feita.

A fazenda Santa Eulália nunca se recuperou completamente daqueles eventos. Rodrigo vendeu a propriedade três anos depois, mudando-se para Salvador com os filhos. A fazenda passou por vários donos ao longo das décadas seguintes, cada um enfrentando dificuldades inexplicáveis, colheitas que falhavam sem razão, doenças que atacavam os trabalhadores, acidentes constantes.

A Casa Grande, que havia testemunhado tantos horrores, foi finalmente abandonada em 1920 e desabou completamente em 1955. Hoje existe apenas uma fundação de pedra coberta por vegetação densa. Moradores locais evitam o local, dizendo que ainda ouvem gritos femininos vindos das ruínas em certas noites. As nove mulheres seguiram caminhos diferentes após a libertação.

Joana abriu um pequeno comércio em Cachoeira e viveu até 1921. Benedita morreu apenas dois anos após ser libertada, vítima de uma tuberculose que seu sistema imunológico comprometido não conseguiu combater. Rita migrou para Recife, onde trabalhou como lavadeira e criou seis filhos. Francisca perdeu a vida em 1892 durante um parto complicado.

Teresa viveu até 1908, tornando-se uma respeitada mãe de santo que ajudou outras mulheres traumatizadas. Luísa casou-se com um homem livre e teve cinco filhos, a nenhum dos quais ela contou sobre sua mutilação. Josefa voltou para a África em 1890, usando economias de anos para comprar a passagem. Catarina desenvolveu alcoolismo severo e morreu em 1898.

Helena tornou-se uma parteira conhecida e ajudou a trazer ao mundo mais de 200 bebês antes de sua morte em 1915. Amélia, que havia sofrido danos cerebrais durante a mutilação, viveu sob os cuidados de sua mãe Rosa até 1905, quando ambas morreram em um surto de febre amarela. Amélia nunca recuperou suas capacidades mentais, passando quase três décadas em estado semicatatônico.

O Dr. Augusto Mendes, o médico corrupto que havia participado das mutilações, tentou recomeçar em outra província, mas sua reputação o seguiu. Desenvolveu dependência severa de ópio e se suicidou em 1888, deixando uma carta confessando sua participação nos crimes de Mariana. Pai Tomás viveu até 1891, quando morreu pacificamente aos 79 anos, cercado por pessoas que ele havia ajudado ao longo de décadas.

Seu último ato foi realizar uma cerimônia de encerramento, onde declarou que a maldição contra Mariana estava completa e que todos os envolvidos poderiam finalmente encontrar paz. Rodrigo Almeida Castro nunca se casou novamente. Viveu até 1910, administrando negócios em Salvador, mas sempre assombrado por memórias do que testemunhara.

Em seu testamento, deixou quantias significativas para instituições que ajudavam ex-escravos, numa tentativa tardia de expiar sua cumplicidade silenciosa. Os três filhos de Mariana cresceram sem saber detalhes completos do que sua mãe havia feito. Apenas em 1920, quando Inácio já era um homem de 57 anos, ele descobriu a verdade através de documentos que encontrou após a morte de seu pai.

A revelação o devastou tanto que ele queimou todos os documentos, determinado a que aquela história morresse com sua geração. Mas histórias como essa nunca morrem completamente. Passam oralmente entre famílias, são sussurradas em comunidades, são registradas em arquivos esquecidos e eventualmente encontram o caminho para a luz. Esta é a história de Mariana Eugênia dos Santos, a sinhá que apodreceu viva.

Uma história de crueldade inimaginável, sofrimento incompreensível e justiça que veio de formas que desafiam a explicação racional. Uma história que nos força a confrontar as profundezas da depravação humana e os limites da medicina, da moral e do próprio conceito de justiça. Se esta narrativa impactou você, deixe seu like agora.

Compartilhe para que mais pessoas conheçam estas verdades que tentaram apagar dos livros de história. Comente suas reflexões sobre tudo que ouviu. Nosso trabalho de pesquisa em arquivos históricos depende de seu apoio para continuar trazendo estas histórias à luz. A história de Mariana Eugênia dos Santos e suas vítimas revela camadas de crueldade e injustiça que vão muito além de um caso individual de sadismo.

Ela expõe a natureza sistemática da desumanização que o regime escravocrata promovia, não apenas entre escravizados, mas também entre os próprios escravizadores. Pesquisadores que estudaram o caso nas décadas seguintes identificaram vários fatores psicológicos e sociais que contribuíram para as atrocidades cometidas por Mariana.

Primeiro, a completa desumanização das pessoas escravizadas permitida e encorajada pelo sistema legal da época. Escravos eram propriedade, objetos sem direitos humanos. Esta desumanização legal criava um ambiente onde crueldades extremas eram não apenas possíveis, mas frequentemente impunes. Segundo, a posição específica de mulheres brancas dentro da hierarquia escravocrata criava dinâmicas particularmente perversas.

Mariana, como mulher da elite, tinha poder quase absoluto sobre mulheres escravizadas, mas vivia em uma sociedade patriarcal que limitava severamente seu próprio poder em relação aos homens de sua classe. Esta contradição criava tensões psicológicas que muitas vezes se manifestavam em crueldade extrema contra aquelas que estavam ainda mais abaixo na hierarquia social.

Terceiro, o fenômeno do ciúme sexual patológico de sinhás era comum no Brasil escravocrata, documentado em inúmeras fontes históricas. Muitas senhoras brancas viviam com medo constante de que seus maridos as traíssem com escravas, medo frequentemente justificado pela realidade da violência sexual sistemática perpetrada por senhores contra mulheres escravizadas.

Mas o caso de Mariana foi extremo mesmo para aqueles padrões. A maioria das que cometiam crueldades contra escravas por ciúmes usavam métodos de tortura convencionais: açoitamentos, ferros em brasa, venda de filhos. Mariana foi além, desenvolvendo um método de mutilação específico que revelava níveis de sadismo que ultrapassavam até mesmo as normas brutais da época.

O doutor Alberto Rodrigues, historiador que pesquisou casos de violência doméstica no Brasil imperial, escreveu em 1987: “O caso de Mariana dos Santos representa o extremo de um espectro de violência que era endêmico no sistema escravocrata. Não podemos tratá-lo como aberração isolada, mas como manifestação extrema de dinâmicas de poder, gênero e raça que permeavam toda a sociedade.”

A questão da maldição que teria causado a necrose progressiva de Mariana permanece fonte de debate. Médicos modernos que analisaram as descrições históricas de sua condição sugeriram várias explicações possíveis: fasciíte necrosante extremamente agressiva, síndrome de Fournier generalizada ou até mesmo uma forma rara de pênfigo paraneoplásico associado a câncer não diagnosticado.

Mas estas explicações médicas não satisfazem completamente, pois a progressão da doença de Mariana foi documentada como extraordinariamente incomum mesmo para estas condições raras. O fato de ter começado exatamente no mesmo local onde ela havia ordenado as mutilações, e de ter progredido de forma tão simbolicamente conectada aos seus crimes, permanece uma coincidência perturbadora que desafia a explicação puramente materialista.

O antropólogo Dr. Renato Silveira, especialista em religiões afro-brasileiras, comentou em entrevista de 2003: “Não podemos provar cientificamente que rituais de candomblé causaram a morte de Mariana, mas também não podemos descartar completamente o poder da fé, tanto de quem realiza os rituais quanto de quem acredita estar sendo afetado por eles.”

“Efeitos psicossomáticos podem ser extremamente poderosos, especialmente em contextos de culpa profunda.” O que sabemos com certeza é que pai Tomás e as mulheres que participaram da cerimônia de 1879 acreditavam genuinamente que estavam invocando forças divinas para trazer justiça. E Mariana, nos seus últimos meses de vida, claramente acreditava que estava sendo punida por essas mesmas forças.

A crença pode não ter causado diretamente sua condição médica, mas certamente moldou como todos os envolvidos interpretaram e experienciaram aqueles eventos. A libertação das nove vítimas e suas famílias em 1883 representa outro aspecto complexo desta história. Rodrigo concedeu alforrias não por bondade moral, mas por medo de que a maldição o afetasse também.

Esta libertação manchada, dada por razões egoístas e muito tarde para desfazer o trauma, exemplifica como até atos aparentemente positivos dentro do sistema escravocrata eram corrompidos por suas fundações imorais. Das nove mulheres libertadas, apenas três conseguiram construir vidas relativamente estáveis após a alforria.

As outras enfrentaram pobreza extrema, problemas de saúde relacionados às mutilações e traumas psicológicos que nunca cicatrizaram completamente. A liberdade legal não apagou as cicatrizes, não devolveu o que foi roubado delas. Teresa, que viveu até 1908 e tornou-se uma mãe de santo respeitada, deixou um depoimento oral que foi preservado por seus descendentes e eventualmente transcrito em 1952.

Neste depoimento, ela refletiu sobre toda a experiência: “O que Mariana fez comigo não pode ser desfeito. Toda noite, quando me deito para dormir, sinto as dores da ferida que nunca cicatrizou direito. Cada vez que vejo minha imagem refletida na água, vejo o corpo deformado que ela me deu. Mas aprendi que a verdadeira liberdade não está no corpo, está na alma.”

“Quando vi Mariana apodrecendo viva, não senti alegria, senti pena. Pena de uma alma tão corrompida pela maldade que até seu próprio corpo a rejeitou. Os orixás trouxeram justiça, mas a justiça não traz felicidade, apenas fecha um ciclo de dor.” Esta reflexão profunda de Teresa nos lembra que a vingança, mesmo divina, não restaura o que foi perdido.

As nove mulheres carregaram suas mutilações até a morte. Seus filhos cresceram conhecendo a história do que aconteceu com suas mães. O trauma foi transmitido através de gerações. Pedro, o filho de Francisca que descobriu as mutilações quando tinha apenas 8 anos, tornou-se um ativista abolicionista fervoroso na década de 1880.

Ele trabalhava incansavelmente para libertar outros escravos, motivado pela memória do sofrimento de sua mãe. Quando a Lei Áurea foi assinada em 1888, Pedro estava na multidão em frente ao Paço Imperial, chorando lágrimas que eram simultaneamente de alegria pela abolição e de tristeza porque chegara tarde demais para sua mãe, que havia morrido em 1892.

A fazenda Santa Eulália, abandonada e arruinada, tornou-se um símbolo local da maldição do escravismo. Mesmo após a abolição, trabalhadores rurais da região evitavam o local. Histórias circulavam sobre aparições de mulheres mutiladas vagando pelas ruínas, sobre gritos que ecoavam da antiga Casa Grande, sobre visitantes que entravam nas ruínas e saíam marcados com estranhas feridas.

Em 1955, quando as últimas paredes da Casa Grande finalmente desabaram, moradores locais realizaram uma cerimônia de purificação no local, liderada por descendentes de pai Tomás. A cerimônia tinha como objetivo libertar quaisquer espíritos que ainda estivessem presos àquele lugar de tanto sofrimento. Hoje, em 2024, o local onde ficava a fazenda Santa Eulália é uma área de preservação ambiental.

Poucas pessoas visitam, e as que visitam frequentemente relatam sensações de desconforto e tristeza inexplicáveis. Em 2010, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia conduziu um estudo histórico e arqueológico do local, desenterrando artefatos e documentos que confirmaram muitos detalhes da história de Mariana e suas vítimas.

Entre os achados mais perturbadores estavam instrumentos cirúrgicos encontrados em um porão da Casa Grande: facas, tesouras, agulhas, ainda manchados com substâncias que testes posteriores confirmaram ser sangue humano do século XIX. Estes artefatos estão agora preservados no Museu Afro-Brasileiro em Salvador, numa exposição permanente sobre as realidades da escravidão que os livros de história frequentemente omitem.

A história de Mariana nos força a confrontar questões difíceis sobre a natureza humana, poder e justiça. Como uma pessoa pode cometer atrocidades tão extremas contra outras? O que os sistemas de opressão fazem à psique, tanto de opressores quanto de oprimidos? Existe justiça verdadeira para crimes tão hediondos? Estas não são questões meramente históricas.

Os padrões de desumanização, violência baseada em gênero e raça e abuso de poder que permitiram as atrocidades de Mariana continuam existindo em formas modernas. O Brasil ainda lida com o legado profundo da escravidão, um legado que se manifesta em desigualdades raciais persistentes, violência contra mulheres negras e uma tendência de minimizar ou esquecer os horrores do passado escravocrata.

Contar histórias como a de Mariana e suas vítimas não é um exercício de voyeurismo macabro; é uma necessidade moral. Estas mulheres — Joana, Benedita, Rita, Francisca, Teresa, Luísa, Josefa, Catarina, Helena e Amélia — merecem ser lembradas não apenas como vítimas, mas como sobreviventes que resistiram a traumas inimagináveis e reconstruíram suas vidas.

Apesar de tudo, suas histórias nos ensinam que o mal humano pode alcançar profundidades terríveis quando sistemas de opressão dão poder absoluto a alguns sobre outros; mas também nos ensinam sobre a resiliência extraordinária do espírito humano, sobre comunidades que se apoiam em meio ao sofrimento, sobre formas de resistência e busca por justiça que transcendem os sistemas legais corrompidos.

A maldição que teria causado a morte horrível de Mariana, seja ela explicável por causas médicas ou por forças espirituais, representa em nível simbólico a inevitabilidade de que sistemas baseados em violência e injustiça eventualmente destroem até mesmo aqueles que aparentemente se beneficiam deles.

Mariana viveu em luxo e poder por décadas, mas morreu de forma mais horrível que muitas de suas vítimas. Sua riqueza e status não a protegeram das consequências de sua crueldade. Se você acompanhou esta história até o final, deixe seu like para honrar a memória das nove mulheres que sofreram e sobreviveram. Compartilhe para que mais pessoas conheçam estas verdades que tentaram apagar.

Comente suas reflexões sobre o que esta história nos ensina sobre nosso passado e nosso presente. O canal Sombras da Escravidão existe para garantir que estas histórias nunca sejam esquecidas, que as vítimas sejam lembradas, que os crimes sejam documentados e que aprendamos com os horrores do passado para construir um futuro mais justo.

Mariana Eugênia dos Santos morreu há 141 anos, mas as lições de sua história permanecem urgentemente relevantes. O sistema que permitiu suas atrocidades pode ter sido oficialmente abolido em 1888, mas seus legados persistem. Somente confrontando plenamente estes legados, incluindo as histórias mais perturbadoras e desconfortáveis, podemos esperar superá-los.

Esta foi a história da sinhá que apodreceu viva. Uma história de crueldade extrema, sofrimento imensurável, resistência corajosa e uma justiça que veio de formas que desafiam a compreensão simples. Uma história que aconteceu no Brasil real, não em uma fantasia distante, mas nas mesmas terras onde vivemos hoje. Que a memória de Joana, Benedita, Rita, Francisca, Teresa, Luísa, Josefa, Catarina, Helena e Amélia seja honrada.

Que suas dores não sejam esquecidas. Que suas histórias continuem sendo contadas até que todas as formas de opressão que permitiram seu sofrimento sejam finalmente erradicadas. Inscreva-se no canal, ative as notificações e continue conosco nesta jornada de descobrir e preservar as histórias reais que moldaram o Brasil. Porque só conhecendo plenamente nosso passado, em toda a sua beleza e todo o seu horror, podemos construir o futuro que merecemos.