A Faca nas Costas: Traição no Senado e o “Espírito Natalino” que Pode Salvar Bolsonaro

A briga pelo ninho bolsonarista: Lula e o ex-presidente estiveram no estado  do Rio mais de 15 vezes em 2024 | VEJA

Enquanto Lula articula vitórias bilionárias na Câmara, uma manobra inesperada na CCJ do Senado, liderada pelo próprio líder do governo, abre caminho para a redução de pena de golpistas e coloca o Palácio do Planalto em rota de colisão com a sua base.

O Brasil assiste, nesta reta final de 2025, a um dos cenários mais paradoxais da história política recente. De um lado, o Governo Federal celebra vitórias económicas robustas que prometem transformar o bolso do cidadão; do outro, nos corredores frios do Senado, uma articulação nebulosa levanta a suspeita de que o “sistema” está pronto para estender o tapete vermelho para a impunidade de Jair Bolsonaro e dos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.

A Vitória dos 40 Bilhões: O Lula que Governa para o Bolso

A semana começou com o que o Presidente Lula classificou como uma “vitória histórica”. Mesmo contando com apenas 70 deputados e 9 senadores declaradamente aliados, o governo conseguiu aprovar trechos cruciais da reforma tributária. A manobra foca-se na retirada de subsídios de gigantes multinacionais — como o setor de refrigerantes — e na taxação de fintechs e casas de apostas (bets).

O resultado? Uma arrecadação extra prevista de 40 mil milhões de reais. O objetivo é claro: transformar esse montante em investimento social e, principalmente, em desoneração da cesta básica e isenção de IRS para quem ganha até 5.000 reais. Lula parece estar a jogar o “jogo da colheita”, preparando 2026 para ser o ano em que a população sentirá, na prática, a melhoria financeira. Contudo, enquanto a economia respira, a política institucional sofre um golpe interno.

Jaques Wagner e o Acordo que Chocou a Esquerda

O pânico instalou-se quando o senador Renan Calheiros soltou uma “bomba atómica” no plenário. Segundo Calheiros, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, teria feito um acordo com a extrema-direita para facilitar a votação do PL da Dosimetria — um projeto desenhado para diminuir as penas de condenados por crimes contra o Estado Democrático de Direito.

A confirmação veio do próprio Wagner, numa fala que deixou a militância petista atónita. O senador afirmou ter agido por conta própria, sem consultar Lula ou a ministra Gleisi Hoffmann, e disparou uma frase que já ecoa como uma traição histórica: “Quem sabe, com o espírito natalino, o Lula resolva sancionar a redução de pena”. Ao tratar a punição de golpistas como uma questão de “espírito natalino”, Wagner não apenas ignorou o rigor da justiça, como deu oxigénio a uma oposição que estava encurralada pela Polícia Federal.

O Erro “Conveniente” de Fabiano Contarato

A votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi marcada por comportamentos, no mínimo, suspeitos. O caso mais gritante foi o do senador Fabiano Contarato (PT-ES). Ex-delegado e figura respeitada no campo jurídico, Contarato votou a favor do projeto de dosimetria no momento em que a disputa estava renhida.

Após a aprovação por 17 a 8, o senador recorreu às redes sociais para alegar um “engano” no aplicativo de votação. Para analistas e para a base do governo, a explicação é difícil de engolir. Como um delegado experiente, com oito anos de Senado, erra um voto crucial numa sessão de tamanha relevância? A suspeita é de que o voto serviu para garantir o quórum necessário, permitindo que o senador mudasse de posição apenas quando o resultado já estava garantido para os bolsonaristas.

A Chantagem de Flávio Bolsonaro e a Pesquisa Quest

Por trás da pressa do Senado, há uma estratégia clara coordenada por Flávio Bolsonaro. Utilizando dados de pesquisas de opinião que o colocam como o nome mais forte da direita para 2026, o filho do ex-presidente tem usado a “dosimetria” como moeda de troca. A mensagem enviada aos aliados do governo é direta: ou aprovam a redução de pena para o “Capitão”, ou a oposição travará as pautas económicas que Lula tanto necessita para a sua “colheita”.

O perigo imediato é que uma emenda de Sérgio Moro foi adicionada ao texto, tentando blindar o projeto para que ele não regresse à Câmara dos Deputados. O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias, já prometeu acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o rito foi atropelado e que o projeto é uma afronta à Constituição.

Conclusão: O Risco do Perdão

O cenário atual mostra um governo dividido entre a competência técnica da economia e a fragilidade política dos seus articuladores no Senado. Se Lula ceder ao “espírito natalino” sugerido por Jaques Wagner, corre o risco de desidratar a narrativa de defesa da democracia que o elegeu. Enquanto o povo espera pela comida mais barata, a política de Brasília parece estar a cozinhar um acordo que pode deixar as feridas do 8 de janeiro abertas para sempre.