Traição no Senado: O “Infiltrado” que Abalou o Governo e o Futuro de Bolsonaro

O cenário político brasileiro, que já operava sob uma voltagem altíssima neste final de ano, acaba de ser atingido por um terremoto de proporções bíblicas. Enquanto o Palácio do Planalto celebrava vitórias estratégicas na Câmara dos Deputados, uma movimentação nos bastidores do Senado Federal revelou uma ferida aberta no coração da base governista. O que se viu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) não foi apenas uma derrota legislativa, mas uma cena de traição que deixou o presidente Lula furioso e a militância em estado de choque: o líder do governo, Jaques Wagner, selou um acordo que pavimenta o caminho para a redução da pena de Jair Bolsonaro e dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

A Vitória na Câmara: O Alento Antes da Tempestade

Para entender a gravidade do que aconteceu no Senado, precisamos olhar para o sucesso que o governo vinha colhendo horas antes. Com uma articulação que o próprio Lula definiu como superior aos seus dois primeiros mandatos, o governo conseguiu aprovar na Câmara pautas econômicas cruciais. Estamos falando de uma arrecadação de 40 bilhões de reais extras para os cofres públicos, fruto da retirada de subsídios de gigantes como a Coca-Cola e da nova tributação sobre apostas (bets) e fintechs.

Governo apresenta proposta de isenção de imposto de renda para quem ganha  até R$ 5 mil | VEJA

Lula preparava o terreno para 2026, o chamado “ano da colheita”, com promessas reais de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais e a conta de luz zerada para milhões de famílias carentes. O otimismo era palpável. O presidente, em entrevista recente, comparou o governo ao plantio de uma jabuticabeira: demora a crescer, mas o fruto viria com força. No entanto, ele não contava que, enquanto plantava os frutos da economia, seus próprios aliados estariam podando as raízes da justiça no Senado.

O Projeto da Dosimetria: O Salva-Vidas de Bolsonaro

O centro da discórdia é o famigerado Projeto de Lei da Dosimetria. Sob o pretexto técnico de ajustar as penas no Código Penal, o projeto carrega um “jabuti” — termo político para uma cláusula estranha ao tema principal — que beneficia diretamente aqueles condenados por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Em termos claros: é o mecanismo para diminuir o tempo de prisão de Jair Bolsonaro e dos golpistas de 8 de janeiro.

A expectativa era de que o governo travasse uma batalha feroz contra essa medida. O relator e o presidente da CCJ, Omar Aziz e Otto Alencar, indicavam que não havia votos suficientes. Mas o jogo virou de forma sombria.

Jaques Wagner: O Líder ou o Infiltrado?

A bomba atômica foi lançada por Renan Calheiros, que escancarou a manobra: Jaques Wagner, senador pelo PT e líder do governo Lula, teria feito um acordo com a extrema direita para permitir a votação da dosimetria em troca da aprovação de pautas econômicas. O choque foi imediato. Como o líder do governo poderia negociar a liberdade ou a redução de pena do maior adversário político de Lula sem consultar o próprio presidente?

As justificativas de Wagner foram recebidas como um insulto por muitos setores da esquerda. Ele afirmou que “na política é preciso ter coragem de se arriscar” e, em uma frase que deve entrar para os anais da infâmia política, sugeriu que Lula, tomado pelo “espírito natalino”, poderia sancionar a lei que beneficia quem tentou derrubá-lo.

Essa postura de Wagner levanta uma questão dolorosa para o Planalto: ele estaria agindo como um “infiltrado” dos interesses da velha política dentro do projeto de reconstrução do país? Vale lembrar que, nos tempos mais sombrios da prisão de Lula em Curitiba, Wagner foi um dos que sugeriram que o partido buscasse um substituto, abandonando o líder histórico à própria sorte. Hoje, ele parece repetir o gesto de deslealdade, mas desta vez de dentro do governo.

O Papel de Sérgio Moro e as Mudanças de Fachada

Para tornar a situação ainda mais intragável, o senador Sérgio Moro — o carrasco de Lula na Lava Jato — conseguiu incluir uma emenda que “limpa” o projeto de críticas. A emenda diz que o benefício só vale para crimes políticos, e não para crimes comuns como estupro ou roubo. Essa manobra serviu para desarmar a narrativa do governo de que a lei soltaria bandidos perigosos, focando o benefício exclusivamente no “público bolsonarista”.

Análise | Sérgio Moro: o ex-juiz que rasgou a Constituição, por Jorge  Folena - Brasil de Fato

O mais grave: Jaques Wagner aceitou o entendimento de que essa mudança era apenas de “redação”, o que impede o projeto de voltar para a Câmara. Ou seja, ele seguiu direto para o plenário do Senado e, se aprovado, vai direto para a mesa de Lula para sanção ou veto. Wagner colocou o presidente em uma “sinuca de bico” monumental: ou Lula veta e entra em guerra com o Congresso, ou sanciona e trai sua base mais fiel.

A “Confusão” de Contarato e a Queda de Máscaras

A traição não parou em Wagner. O senador Fabiano Contarato, ex-delegado e figura respeitada no campo progressista, registrou seu voto a favor da dosimetria. Após a aprovação por 17 a 8, Contarato foi às redes sociais alegar que votou “por engano” no aplicativo do Senado.

Para um senador experiente e conhecedor das leis, a desculpa do “engano” soou vazia e artificial. Em votações apertadas, cada dígito conta, e o voto de Contarato ajudou a consolidar uma maioria que agora parece inquebrantável. Alessandro Vieira, outro senador que flerta com o lavajatismo, também seguiu o relator, abandonando qualquer resistência contra o benefício aos golpistas.

Lula Furioso: O Futuro da Base Governamental

A reação nos bastidores do Planalto é de pura indignação. Ministros como Alexandre Padilha e a própria Gleisi Hoffmann foram rápidos em desmentir qualquer acordo oficial do governo. O sentimento é de que Wagner agiu por conta própria, ou pior, em conluio com as forças que desejam uma anistia velada para o bolsonarismo.

O impacto disso em 2026 é imprevisível. Enquanto a economia dá sinais de melhora, a base política do governo parece estar sendo corroída por dentro. A estratégia dos líderes evangélicos e bolsonaristas — de atribuir o sucesso econômico a Deus e os problemas a Lula — ganha força quando o próprio governo se mostra desorganizado e traído por seus líderes no Senado.

Conclusão: O Preço da Governabilidade

O episódio da dosimetria mostra que o preço cobrado pelo “Congresso inimigo” para aprovar a pauta econômica de Lula é o perdão judicial para seus algozes. Jaques Wagner escolheu pagar esse preço, mas o fez com o capital político de um presidente que não foi consultado. Se Lula sancionar essa lei em nome de uma paz institucional, corre o risco de desidratar seu apoio entre aqueles que lutaram contra o golpismo. Se vetar, terá um Senado em pé de guerra.

Este 17 de dezembro de 2025 ficará marcado como o dia em que o governo descobriu que seus maiores adversários podem estar sentados à mesma mesa, dividindo o mesmo café, mas planejando o retorno daqueles que quase destruíram a democracia brasileira.