O Crepúsculo dos Ídolos de Barro: O Fim da Voz de Zezé Di Camargo e a Queda Literal do “Patriotismo” de Luciano Hang

Zezé Di Camargo pede desculpas após vídeo com críticas ao SBT repercutir  nas redes - OJORNALISMO

O que acontece quando o talento se esgota e a ideologia cega toma o lugar da sensatez? O Brasil assiste, em tempo real, ao desmoronamento de figuras que outrora dominaram o imaginário popular. De um lado, Zezé Di Camargo, o cantor que perdeu a voz e a linha ao atacar as filhas de Sílvio Santos; do outro, Luciano Hang, o “Velho da Havan”, que viu o seu maior símbolo de ostentação ser derrubado pela força da natureza. Entenda por que o bolsonarismo cultural está a viver o seu pior pesadelo.

A decadência é um processo lento, mas por vezes manifesta-se de forma explosiva e irónica. No atual cenário brasileiro, a política e o entretenimento fundiram-se numa massa de ressentimento e contradições. Figuras que construíram fortunas e carreiras sólidas parecem agora empenhadas em destruir os seus próprios legados em nome de um fanatismo que já não encontra eco na realidade das urnas.

Zezé Di Camargo: A Voz que se Calou e a Mente que se Perdeu

Zezé Di Camargo, outrora uma das vozes mais potentes e respeitadas do sertanejo, atravessa uma fase de “desalinhamento” total. O cantor, que hoje é comparado ironicamente a uma “galinha-d’angola” pela sua incapacidade de atingir as notas que o consagraram, decidiu canalizar a sua frustração para o campo político.

O alvo da sua fúria recente foram as filhas de Sílvio Santos. O motivo? O lançamento do SBT News, onde a emissora, num gesto de pragmatismo e respeito institucional, convidou autoridades de diversos espetros políticos. Zezé, imerso numa “bolha” de informações falsas, sentiu-se no direito de questionar a honra das herdeiras do SBT, afirmando que elas “não honram o pai”.

A hipocrisia é gritante. Zezé esquece-se — ou finge esquecer — que o próprio Sílvio Santos foi o mestre supremo do pragmatismo. Sílvio nunca teve um lado que não fosse o do poder. Desde a ditadura militar até aos governos do PT, o “homem do baú” sempre soube que uma concessão de televisão sobrevive da boa relação com quem manda. Ver Zezé atacar as filhas de Sílvio por fazerem exatamente o que o pai fez durante 60 anos é a prova cabal da sua ignorância política.

O Cinismo de um “Ex-Lulista”

A internet, que não perdoa nem esquece, rapidamente resgatou imagens que Zezé preferia apagar. O cantor, que hoje se veste de paladino da extrema-direita, já foi visto a cantar na posse de Lula e a segurar cartazes petistas em 2002. Naquela época, o “amor” pela política tinha um sabor diferente — o sabor do poder vigente.

Hoje, Zezé tenta proibir o SBT de usar os seus vídeos, num gesto de prepotência máxima, como se a sua imagem atual ainda fosse o ativo mais valioso da emissora. A realidade é mais cruel: o público hoje vai aos seus shows mais pela nostalgia e pelos convidados do que pela sua performance vocal, que se resume a desafios penosos e letras esquecidas.

Luciano Hang e a Estátua que a Natureza não Perdoou

Enquanto Zezé Di Camargo desafina no discurso, Luciano Hang, o mediático dono da Havan, sofreu um revés simbólico pesado. Uma das suas famosas Estátuas da Liberdade — aquela versão de plástico que ele insiste em espalhar pelo Brasil como símbolo de um “patriotismo” que venera ícones americanos — foi derrubada por ventos fortes, esmagando carros num dos seus parques de estacionamento.

A cena é quase uma metáfora cinematográfica. O homem que construiu um império, em grande parte beneficiado por políticas de crédito de governos anteriores que ele agora demoniza, vê o seu símbolo de “liberdade” cair por terra. Hang, que tem por hábito culpar o “comunismo” ou o “petismo” por qualquer contratempo, terá agora de explicar se o vento também é um agente da esquerda.

Rir desta situação não é falta de empatia; é uma reação ao contexto. Hang possui uma fortuna estimada em biliões. O prejuízo de uma estátua e de alguns carros esmagados não representa para ele o que uma conta de eletricidade representa para o trabalhador brasileiro. O riso vem da queda da arrogância. Um homem que se diz patriota, mas que usa um símbolo francês/americano para marcar o seu território, recebeu um lembrete da natureza de que nada é inabalável.

A Fake Opinion: O Mal da Década

O caso de Zezé Di Camargo é o exemplo perfeito do que o jornalista Reinaldo Azevedo chama de “fake opinion”. Zezé não tem uma opinião baseada em factos ou estudo; ele tem uma opinião moldada por correntes de WhatsApp e desinformação. O desafio lançado ao cantor é simples: vá estudar. Saia da bolha dos milhões e tente debater política com base em dados reais, não em ressentimento.

O Brasil que figuras como Zezé e Hang defendem é um país de exclusão, onde a cultura é tratada como mercadoria ideológica e a verdade é o que convém ao algoritmo. No entanto, o “bolsonarismo cultural” está a esfarelar-se. Quando os ídolos começam a atacar as instituições que os criaram — como o SBT — e quando a natureza derruba os seus monumentos de plástico, é sinal de que a maré mudou.

Conclusão: O Peso da Realidade

Envelhecer mal não é uma questão de rugas, mas de caráter e inteligência. Zezé Di Camargo envergonha o seu passado ao tornar-se um propagador de ódio contra mulheres (as filhas de Sílvio Santos) e contra a democracia. Luciano Hang continua a ser um personagem caricato cuja influência diminui à medida que o país tenta recuperar a normalidade institucional.

A queda da estátua da Havan e a “quase-morte” da voz de Zezé são sinais de uma era que está a passar. O público brasileiro, cansado de bizarrias e de ataques constantes à verdade, começa a olhar para estas figuras com o desdém que elas próprias semearam. O “Tic-Tac” da história é implacável: o talento pode dar fama, mas a falta de juízo traz o ridículo. E do ridículo, como se sabe, é muito difícil voltar.