O cenário político brasileiro foi sacudido nesta sexta-feira por uma operação de proporções nucleares que atinge o coração do Partido Liberal (PL). O que começou como uma investigação sobre pequenos excessos em verbas de gabinete transformou-se no que muitos investigadores já chamam de “o golpe final” contra a estrutura de liderança da extrema-direita no Congresso. Sob o comando da Polícia Federal (PF) e com o respaldo decisivo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, uma megaoperação mirou figuras centrais do bolsonarismo: os deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy.
![]()
As revelações são dignas de um roteiro de cinema policial, mas com um custo real e amargo para o contribuinte brasileiro. Entre malas de dinheiro vivo, empresas que só existem no papel e movimentações financeiras que desafiam a lógica matemática, o escândalo promete redefinir os rumos do Congresso Nacional e as eleições municipais que se aproximam.
O Flagrante: Dinheiro Vivo e a “Mágica” das Notas em Espécie
A imagem mais emblemática da operação até agora é, sem dúvida, o montante de R$ 430.000,00 apreendido em espécie com o deputado Sóstenes Cavalcante. Em plena era do PIX e das transações digitais rastreáveis em segundos, a pergunta que ecoa nos corredores da PF é simples e direta: por que um representante do povo guardaria quase meio milhão de reais em notas físicas?
Para os investigadores, a resposta é óbvia: dinheiro em espécie não deixa rastro digital imediato. No entanto, o que os parlamentares não esperavam era a profundidade da investigação liderada por Flávio Dino. Segundo a decisão que teve o sigilo levantado nesta manhã, esse valor apreendido representa apenas 1% do estrago total. Estima-se que o esquema tenha movimentado mais de R$ 40 milhões. Onde está o resto? A PF acredita que 99% do montante já foi “lavado” ou ocultado em bens e contas de terceiros.
A Anatomia do Golpe: A “Mamata” dos Carros de Luxo e Empresas de Fachada
O “Modus Operandi” do grupo era audacioso e utilizava uma das brechas mais antigas e vergonhosas do sistema parlamentar brasileiro: a cota para exercício da atividade parlamentar (CEAP). A investigação revelou um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro focado no aluguel de veículos.
O caso do deputado Carlos Jordy é pedagógico. A PF descobriu que ele utilizava o dinheiro público para alugar veículos de uma locadora que, no início do contrato, possuía apenas um carro — justamente o que era destinado ao parlamentar. Com o passar dos anos, alimentada pelos milhões de reais da cota parlamentar, essa empresa “cresceu” e hoje possui cinco veículos. O detalhe sórdido? O valor pago em alugueis ao longo do tempo seria suficiente para comprar uma frota de 30 carros zero quilômetro.
Essa é a clássica “empresa de fachada”. O CNPJ existe, mas não há sede física real, não há site, não há prestação de serviço para o público geral. A empresa servia apenas como um duto para transformar dinheiro público em lucro privado, que posteriormente retornava aos parlamentares através de laranjas.
Assessores com Movimentações de Magnatas: O Elo Fraco
O ponto mais robusto do relatório da PF reside na quebra dos sigilos bancários e fiscais dos assessores diretos de Sóstenes e Jordy. Os números são astronômicos e completamente incompatíveis com os salários pagos pela Câmara dos Deputados.
Assessor A: Movimentação de R$ 11 milhões.
Assessora B: Movimentação de R$ 6 milhões.
Assessor C: Movimentação de R$ 15 milhões.
Como funcionários que ganham, em média, R$ 15 mil por mês conseguem transacionar dezenas de milhões de reais em suas contas pessoais? A Polícia Federal foi atrás da origem e o resultado foi o esperado: não há origem lícita. Não há empresas paralelas bombando, não há heranças. O que existe é o repasse sistemático da verba de gabinete para contas de assessores, que então distribuíam o dinheiro conforme as ordens da liderança do PL.
O “Efeito Dominó”: De Daniel Silveira a Gustavo Gayer
Este escândalo não nasce no vácuo. Ele é a continuação de um padrão de comportamento que vem sendo mapeado pela PF desde 2021. O jornalista e pré-candidato Thiago, do Plantão Brasil, relembrou casos análogos que mostram que a corrupção na cota parlamentar é quase um “pré-requisito” para certas figuras da extrema-direita.
Daniel Silveira, hoje preso, foi flagrado com R$ 275 mil em espécie em casa, mesmo estando com as contas bloqueadas. Gustavo Gayer, indiciado recentemente, é acusado de usar até a conta bancária do próprio filho para desviar recursos públicos. O padrão é claro: o discurso “anti-corrupção” serve como cortina de fumaça enquanto, nos bastidores, o dinheiro do contribuinte é drenado para sustentar estilos de vida luxuosos.

A Narrativa do Vitimismo e a Resposta de Flávio Dino
Como era de se esperar, a defesa dos parlamentares já acionou a máquina de propaganda nas redes sociais. O advogado de Carlos Jordy publicou vídeos alegando “perseguição política” por parte de Flávio Dino, afirmando que a operação ocorre apenas por causa de “um aluguel de carro desde 2019”.
Entretanto, o que a defesa chama de “apenas um aluguel”, a PF classifica como peculato e lavagem de dinheiro. Flávio Dino, conhecido por sua formação jurídica técnica e postura firme, não tem cedido às pressões. Diferente de outros ministros que, no passado, arquivaram investigações contra nomes como Arthur Lira, Dino tem dado luz verde para que a PF siga o rastro do dinheiro, não importando quão alto ele chegue.
Gasolina para “Viagens Espaciais” e o Abuso do Sistema
Outro ponto que causa indignação é o gasto com combustível. O histórico de figuras como Carla Zambelli e o próprio Daniel Silveira mostra gastos de até R$ 7.000,00 mensais em um único posto de gasolina — muitas vezes em períodos onde o parlamentar sequer estava no estado ou no país.
O caso de Alexandre Ramagem é ainda mais emblemático na análise atual: como alguém consegue gastar R$ 5.000,00 de gasolina no Rio de Janeiro estando em Miami? A conta não fecha, a menos que a “gasolina” seja, na verdade, uma forma de converter verba pública em dinheiro vivo através de notas fiscais frias emitidas por postos parceiros.
Conclusão: O Destino é a Jaula
O cerco se fechou. Com a quebra de sigilos e a apreensão de dispositivos eletrônicos, a PF agora busca a prova final: as mensagens diretas onde os deputados davam as ordens para os desvios. A expectativa em Brasília é que o próximo passo seja o indiciamento formal e, posteriormente, o pedido de prisão preventiva, dado o risco de destruição de provas e a continuidade dos crimes.
A liderança de Sóstenes Cavalcante no PL termina agora, sob o peso de uma investigação que pode lhe render até 40 anos de cadeia. O partido, que tenta se manter como a maior força de oposição, vê seus principais quadros serem desmascarados como “ladrões de dinheiro público da pior espécie”.
A justiça brasileira, através da Polícia Federal e do rigor de Flávio Dino, envia um recado claro: o tempo da impunidade para quem usa a bíblia e a bandeira para esconder o roubo está chegando ao fim. Para esses líderes do PL, o “cestou” de hoje veio com gosto de ferro das grades que os esperam.
News
End of content
No more pages to load






